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      Os idosos da Baixa estão sozinhos e precisam de cuidados
Medidas sociais prestam auxílio aos mais velhos habitantes de Lisboa


 
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  Numa tarde de segunda-feira, na sala de convívio da Junta de Freguesia de S. Nicolau, alguns dos mais antigos moradores da Baixa Pombalina jogam ao bingo. Uma das senhoras vai dizendo os números em voz alta enquanto os outros os procuram no cartão. A funcionária da Junta vai tirando cafés que leva para a mesa e pede desculpa a quem está na sala de espera, porque “agora está a tratar das velhotas”.

A população da Baixa lisboeta está bastante envelhecida, mas talvez não tanto quanto se pensa. Os dados mais recentes da Junta de Freguesia de S. Nicolau, que abarca 99% da Baixa Pombalina, mostram que existem apenas 374 eleitores acima dos 65 anos, contra os mais de 800 nas faixas etária dos 64 aos 19. Apesar disto, há uma discrepância grande entre os eleitores e os moradores, que já se estimam mais de 3000. Os idosos da Baixa são, ainda assim, muitos. E moram, sobretudo, nos últimos andares dos prédios, mais propícios à degradação das condições de habitabilidade e a outros problemas, como a solidão.

António Manuel, presidente desta Junta de Freguesia, afirma que ali se “aposta sobretudo na vertente social e em medidas de combate à solidão”. Criaram-se, para isso, as actividades de convívio para os idosos da freguesia. A Junta quer ainda manter e oferecer à população infra-estruturas sociais de saúde. Dentro das suas instalações há um consultório onde todas as manhãs são feitas análises clínicas gratuitamente. Às terças e quintas há fisioterapia e, nas tardes de terça, há consultas médicas. Os moradores com mais de 55 anos – com prioridade para os mais carenciados, como se lê no regulamento do apoio social afixado à entrada – podem ainda frequentar sessões de hidroterapia, duas vezes por mês.

Fernanda tem 82 anos, é viúva e mora sozinha na Baixa, numa casa com dez divisões. Os familiares moram no Porto. “A minha casa andava sempre cheia. Casaram as filhas, casaram os netos e eu fiquei com a casa vazia”, conta. Paga uma renda de pouco mais de cem euros e o senhorio não faz obras de manutenção, apenas a parte exterior do prédio onde mora foi remodelada. Maria dos Anjos, de 78 anos, também mora sozinha na Baixa. Costuma, como Fernanda, passar as tardes no Centro de Dia da Junta de Freguesia de Santa Justa. Ali, vêem televisão, jogam, conversam, lancham e fazem passeios e excursões com um grupo de idosos de mais quatro freguesias.

Ivone trabalha no Centro de Dia, já viveu na Baixa e sente-se muito triste com o estado actual desta zona da cidade. “Os idosos da Baixa têm muitas necessidades”, alerta Ivone. Diz que precisam de companhia e de melhores condições de vida – cuidados de saúde, de higiene e alimentação, de obras em casa. Fala da insegurança e lembra os tempos em que as ruas eram limpas, as portas estavam abertas e ninguém tinha medo de ninguém. “Hoje andamos com o coração nas mãos, nem dá gosto vir à Baixa. Antigamente, depois de jantar, íamos ver as lojas com as montras lindas, hoje há muitas lojas fechadas e muitas lojas estrangeiras”, conta, explicando que lamenta apenas a descaracterização da cidade e não tem nada contra os imigrantes.

     
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Tatiana Vaz Pereira
tvazpereira@gmail.com