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      Os comerciantes da Baixa continuam desanimados
Por dia, passam na Baixa 200 mil pessoas, mas nem isso anima o comércio tradicional da zona


 
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Rua da Baixa
  As queixas ouvem-se um pouco por todo o comércio tradicional da Baixa. Às portas das lojas, os comerciantes matam o tempo a olhar as ruas; os empregados dos restaurantes dos becos mais escondidos nem sempre conseguem angariar clientes para as principais refeições. Apesar de tudo, os turistas são muitos e vão comprando castanhas. À entrada da Rua do Carmo, uma vendedora ambulante vende guarda-chuvas e carteiras. Lembra que “a Baixa era totalmente diferente do que é agora” e não foi assim há tanto tempo. “Antes de a estação do Rossio fechar havia muito mais pessoas. Desde que a estação fechou o negócio ficou muito mau para todo o comerciante. Esperemos que agora melhore, com a reabertura da estação.”

Desde a loja indiana de variedades, num dos lados da Rua da Prata, à perfumaria antiga do outro lado da rua, o negócio vai mal e o problema não é só a concorrência das grandes superfícies. Os comerciantes da Baixa estão cientes das mais-valias do comércio que praticam. Dina, que trabalha há 30 anos na Drogaria e Perfumaria S. Pereira Leão, da Rua da Prata, reconhece que o atendimento na Baixa é muito mais personalizado do que o das grandes lojas dos centros comerciais. “Por isso, muitas vezes temos clientes que vêm cá só para nos pedir conselhos”, explica.

No entanto, Dina nota, desde que a rede de metro foi alargada, que a Rua da Prata deixou de ser um local de passagem. “Antigamente, as pessoas saíam na Praça da Figueira e tinham de passar por aqui para ir a pé para os barcos. Por volta das quatro e cinco da tarde, as ruas ainda estavam cheias de gente; agora, a partir dessa hora, já não se vê quase ninguém”. A comerciante acredita, por isso, que alargar o horário de funcionamento das lojas não resolveria o problema do comércio tradicional.

A Junta de Freguesia de S. Nicolau criou, a pensar no comércio tradicional, um cartão de residente que dá a quem o possuir 5 a 15% de desconto nas lojas da Baixa aderentes. A Perfumaria Pereira Leão não vai aderir ao projecto, designado “O Coração da Cidade”: para fazer face ao comércio de grande volume, os preços não apresentam margem de lucro para fazer o desconto. Vai vivendo dos clientes antigos, de quem passa e dos produtos “que não se encontram em mais lado nenhum”, como as colónias vendidas em quantidades avulsas, que hoje são encomendadas a laboratórios mas que eram confeccionadas na perfumaria, misturando fragrâncias e óleos encomendados de França, quando Dina começou no ramo.

António Manuel, Presidente da Junta de S. Nicolau, acredita o comércio devia modernizar-se e ser mais flexível, mesmo nos horários, porque também lhe reconhece as potencialidades que superam as dos centros comerciais. Diz também que a ideia de que a Baixa é insegura é errada e que há muito poucos sítios na cidade tão policiados, o que será mais evidente com a instalação de um sistema de videovigilância proposto pela Junta, que está a ser apreciado pelo Ministério da Administração Interna. “Por dia, passam duzentas mil pessoas na Rua Augusta – são dados da polícia. Como se vê, não é assim tão pouca gente. Só em 2006, os dispositivos colocados à entrada dos Armazéns do Chiado detectaram nove milhões de visitas”, afirma António Manuel.

     
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Tatiana Vaz Pereira
tvazpereira@gmail.com