Conceição Mendes, coordenadora de lar da instituição O Ninho, em Lisboa, dedica-se há 25 anos ao trabalho directo com mulheres que se prostituem, e considera que «fazer a diferença na vida destas mulheres é muito mais gratificante que qualquer quantia de dinheiro».
Conceição não poupa elogios ao trabalho de rua que os técnicos de O Ninho desempenham, sendo que é, na sua opinião, a primeira das muitas e morosas etapas no processo de reinserção social da mulher prostituída. «Tudo começa com uma abordagem amigável, não moralista, que pretende apenas dar a conhecer O Ninho, fazer ver que há alternativas, procurar consciencializar a mulher do seu valor e, acima de tudo, dizer que estamos cá para quando ela precisar», explica a assistente social revelando ainda que muitas mulheres que conhecem a instituição só solicitam ajuda passados 5 ou 6 anos.
As mulheres protegidas pela instituição são sujeitas, constantemente, a inquéritos, avaliações psicológicas, a um estudo exaustivo da situação em que se encontram, de modo a se elaborarem estratégias mais adequadas a cada caso. Além disso, os técnicos podem eles próprios recorrer a um terapeuta, que os ajuda no âmbito emocional e relacional que estabelecem com as mulheres com quem trabalham.
A função do técnico não é a de ser amigo, é a de ajudar pessoas de quem se gosta, mas em relação às quais tem de se ter «muito cuidado com um envolvimento emocional descontrolado», citando Conceição. «Eu ouço-as, aconselho-as e guio-as, e elas também me ajudam com a informação que me transmitem, pois vai ser informação útil noutro caso, com toda a certeza, no entanto, eu não partilho a minha vida íntima com ninguém...isso dificultaria tudo», reforça.
Tirou o curso técnico de serviço social, mas diz que nunca pensou que fosse sua vocação este tipo de trabalho relacionado com a prostituição. Tudo aconteceu naturalmente, na sequência de vários jantares ocasionais n’ O Ninho, com uma colega de escola que lá trabalhava. «Fui lá jantar uma noite, depois duas noites, depois três... até que abriu uma vaga de monitora», diz.
Embora tenha hoje ainda muito contacto com as mulheres que a instituição ajuda, reconhece que o cargo de monitora é muito importante no âmbito da compreensão das necessidades e dificuldades destas mulheres. «Não são os livros que nos ensinam como lidar com uma mulher traumatizada, é o trabalho directo com a mulher, a criação de relações de confiança, porque cada caso é um caso, o que não nos permite generalizar muito», salienta a interventora social.
«A primeira história que ouvi fez com que pensasse que me estavam a testar apenas, aquilo não podia ser verdade! Hoje sei que, dia após dia, funciona tudo a papel químico, e com agravantes muitas das vezes!», relembra.
Conceição Mendes não acredita em retrocessos, «as pessoas evoluem em espiral, portanto se regredirem, nunca regridem totalmente, tanto que apresentamos uma taxa de cerca de 90% de casos bem sucedidos». A assistente social defende que o facto de haver um acompanhamento contínuo garante a continuidade da inserção social das mulheres.
Ana Almeida
Jacinto Delgado
Tânia Ferreira