Numa altura conturbada em que o processo "Face Oculta" desperta consciências e muitos pontos de interrogação, “censura” parece ter voltado a ser termo usual. Chocado com o que diz ser uma utilização indevida do termo, Arons de Carvalho, socialista e professora na Universidade Nova de Lisboa, afirma que corre-se o risco de estar "no fim de contas, a banalizar aquilo que foi um período negro na História de Portugal”. Já de acordo com Fernando Rosas, bloquista e professor no Departamento de História da Universidade Nova de Lisboa, a verdadeira questão não é a ausência de liberdade de expressão, mas sim uma falha ao nível do pluralismo de informação. Defende ainda que este risco deriva da crescente lógica de concentração.
Perante este cenário e segundo Martins Morim, elemento da Direcção do Sindicato dos Jornalistas, cabe ao jornalista “perceber o que é o interesse público, o qual não é a mesma coisa que o interesse do público”. Salvaguarda ainda o quão preocupante pode ser a “auto-censura”, associada à precariedade da profissão que para ele deve assumir “uma atitude de contra a corrente”.
Uma precariedade que Fernando Rosas não desmente ao reforçar a necessidade de lucro, o qual se prende, muitas vezes, com a busca do “escândalo”. Algo que, segundo o Rosas, se trata de “uma tentação muito grande que prejudica a objectividade”. Assim, e de acordo com Arons de Carvalho, é urgente não esquecer que “a liberdade pode ser utilizada para limitar os direitos dos outros”, sendo o equilíbrio algo muito complexo.
No entanto e apesar dos princípios que não devem ser esquecidos, Martins Morim reforça que a relação entre comunicação social e política “nunca vai ser de paixão assolapada”. Perante tudo isto, resta saber o que pensa a opinião pública. Fernando Rosas acredita que caso as denúncias “tenham um mínimo de fundamento, vai ser fortemente penalizador para o governo”. Caso contrário, ou seja, “se a montanha parir um rato (…) a imprensa que escorregou mais para o sensacionalismo vai ter alguns problemas”, explica.
Conhecedor destes dois lados de uma moeda tão controversa, Arons de Carvalho considera que ambos deverão saber assumir os seus papeis conscientes dos limites. Como resume Martins Morim, “nem o jornalista deve, à noite, tentar entrar pela janela do gabinete do primeiro-ministro, nem o primeiro-ministro deve cair na tentação de dizer ao director “cuidado com isso” – seria o ideal”.