Por aqui, no salão Motor-Hairport, nascido há menos de um ano, não há marcações, não há dia nem hora definidos para ter vontade de ir ao cabeleireiro. Quem chega em busca do que, um dia, foi uma oficina dedicada à lavagem de motores de camiões e descobre este recanto junto do elevador da Bica, depara-se com um quadro negro onde, a giz, deve escrever o seu nome. Depois, resta esperar. O sol e a vontade de contactar com outras culturas trouxeram Jezz até Portugal, “um país engraçado, um país pequeno”, onde se cruzam conservadores e exploradores de novas tendências. Habituou-se à falta de pontualidade e a “tirar volume, contrariamente ao que acontece na Alemanha”, o seu país de origem, desejou criar algo “mais jovem, mais alternativo e individual” e, hoje, é gerente do salão Motor-Hairport.
Uma chávena de chá e as muitas revistas que decoram a mesa rodeada de bancos, são alguns dos aliados na luta contra a espera. A música não deixa que o silêncio seja banda sonora e o avental de Jezz, afinal, não passa de umas velhas e gastas calças de ganga, as quais ganharam uma segunda vida. Alguns espelhos, um dia, também foram portas. E são muitos os vestígios do passado daquele espaço. Uma decoração diferente que não tenciona apenas atrair os olhares.
Trata-se de um espaço que também ambiciona ser o tecto de novos talentos que “pretendam ganhar mais experiência e crescer”. Um trabalho que não se resume à monótona sequência lavar, cortar, secar. Pois, segundo Jezz, é como “fazer esculturas em cabeças”, respeitando sempre a unicidade de cada pessoa que aparece.
O salão é composto por três profissionais, sendo que os preços também variam. No entanto, como o verdadeiro desafio é “fazer arte no cabelo, coisas mais criativas e radicais”, quem estiver disposto a alinhar terá direito a um desconto.
No que toca ao futuro, pretende-se associar o cabeleireiro a outras formas de arte e cultura, disponibilizando-se o espaço para diversas iniciativas. Uma maneira, segundo Jezz, de fazer justiça ao nome do salão: “Motor implica movimento. Temos que estar sempre em mudança. Assim, as pessoas, sempre que cá vierem, irão encontrar algo novo”. E é em torno da mudança que deverá girar o futuro.
Lavar e secar é algo que não fazem, apesar de pretenderem servir diferentes públicos. Quem entra não tem, automaticamente, que “rapar o cabelo todo”, tenta-se apenas satisfazer os clientes com criatividade, explica Jezz. Um cabeleireiro que, nas palavras da gerente, é “sempre qualquer coisa de diferente” e onde todos podem entrar “nem que seja só para dizer olá”.