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      Vitorino Guimarães - “A ideia de pátria está completamente posta em causa”


 

"A civilização moderna só floresce com a liberdade de pensar e de criar, o que supõe a laicidade das instituições públicas e nas relações sociais”.
 

Do legado da República pouco resta. A ideia de pátria, fundamental no ideário republicano, está “completamente posta em causa”, a ponto de poder causar estranheza “falar a um português de hoje sobre ideais”, afirmou Vitorino Magalhães Godinho, historiador e um dos pioneiros das Ciências Sociais em Portugal, em entrevista na última edição do Jornal de Letras.

Ao mesmo tempo, cresce uma Europa em que “a diversidade cultural tem sido completamente ignorada”. Para aquele que é considerado um dos mais notáveis académicos portugueses, tendo, inclusive, integrado o núcleo dos fundadores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas “a Europa tem de ser uma construção de soberanias” e cada europeu deve ter “um alto sentido da sua pátria, como um valor próprio”. “A civilização moderna só floresce com a liberdade de pensar e de criar, o que supõe a laicidade das instituições públicas e nas relações sociais.”

A instauração da República, acontecimento-chave na História de Portugal do séc. XX, serviu de impulso à modernização e permitiu “afirmar a nossa posição no mundo”, mas também “desembocou, a prazo, nas reacções totalitárias que ocorreram na Europa no pós 1ª Guerra Mundial”. Um dos maiores fracassos foi “a evolução de partidos políticos para centros de intrigas, com programas bastante fracos”, o que impediu “o desenvolvimento de uma política a longo prazo”, apontou o historiador.

Embora a Guarda Nacional Republicana tenha passado a desempenhar as funções da antiga Guarda Municipal, os “quadros do exército continuaram a ser os da monarquia”. “Até há casos em que os monárquicos são preferidos em detrimento dos republicanos”, contou. Ainda assim, houve triunfos. A aposta na Educação e na Instrução terá sido um dos maiores. “A República criou o Instituto Superior Técnico, Escolas Superiores de Comércio e Indústria e Faculdades de Letras”, destacou.

Sobre a Monarquia, Vitorino Godinho afirmou que os monárquicos, embora não tenham operado “uma grande acção militar, souberam criar uma rede de contra-informação muito eficaz”. O que não terá sido suficiente. Na fase final da Monarquia, “reinava o desnorte, os partidos políticos não tinham soluções, o Rei tentava impôr a ordem, mas a ditadura descambou e levou ao regicídio”. Não fora criado um Estado Liberal e “havia um sentimento de desactualização em relação ao mundo que era muito evidente.”

     
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Helena Bento
helenabento_@hotmail.com