O jornalismo em democracia é mais sensacionalista e menos defensor de causas sociais. É esta a principal conclusão de um estudo apresentado pelo investigador brasileiro Rafael Marroquim, no decorrer do III Seminário Internacional em Media, Jornalismo e Democracia, realizado esta semana na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa.
A investigação centrou-se na cobertura noticiosa em períodos pré-eleitorais no Brasil, e no contributo dos media para o lançamento de um verdadeiro debate acerca dos problemas sociais nos países democráticos. Marroquim começa por criticar a "excessiva presença" de notícias sensacionalistas e com pouca informação imparcial nos jornais, o que considera ser um reflexo do perigoso relacionamento entre os media e o Poder.
Rafael Marroquim vai mais longe na análise negativa que faz á cobertura jornalística em eleições. Para o investigador, o facto de o trabalho jornalístico ser baseado em “mexericos e frases feitas”, alimentados pelos próprios governantes e políticos, tem provocado uma diminuição significativa da participação política dos cidadãos em actos eleitorais. Uma situação que o próprio encontra no Brasil.
Num momento em que se fala cada vez mais em crise na identidade da democracia, agravada pelas dificuldades económicas, o investigador alerta para o papel mediador que o jornalismo poderá ter, através da abertura do debate político a quem não tem acesso directo aos organismos de Poder. Marroquim defende mesmo uma renovação do trabalho jornalístico.
O estudo, centrado na realidade brasileira mas com constantes referências á situação portuguesa, é, segundo o jornalista, uma forma de chamar a atenção dos Media para a sua "excessiva tentação de alimentar o Poder e desprezar os grupos menos poderosos". Além de um incentivo á maior participação do jornalismo na renovação da democracia.