A cena da criança nos ombros do pai trazendo nas mãos um cartaz que diz “E o nosso futuro pá?” retrata a abrangência do manifesto organizado pela “geração à rasca”, representada, no último sábado, pela esperança uníssona de mais de uma geração. Cerca de 200 mil pessoas de diferentes idades e classes sociais estiveram presentes na Avenida da Liberdade, no coração de Lisboa, para lutar contra a precariedade, a falta de emprego e de perspectivas.
O protesto estendeu-se até o Rossio. Ao longo do trajeto foram feitas intervenções por parte dos organizadores e a leitura do manifesto. Ao fundo, hinos como “o povo unido jamais será vencido” e “luta, luta, camarada, luta!” eram entoados com entusiasmo pelos manifestantes, que aproveitaram a ocasião para contestar a austeridade do Governo e outras questões políticas e sociais.
Rita Gomes, desempregada há 8 meses, é uma das milhares de pessoas que se autodenominam “à rasca”. “Mando currículos por todas as vias, falo com todas as pessoas imagináveis, mas infelizmente, está complicado”, desabafa. Apesar disso, Rita acredita que a manifestação “certamente vai deixar uma marca, ainda que em curto prazo não mude nada”
Manoel Vitório, aposentado, esteve presente em nome dos seus filhos e dos netos que hão de vir. “É uma boa iniciativa, e acho que com a força dos jovens as coisas vão ser resolvidas”, apóia. Já a geógrafa Kátia Madeira queixa-se pelo que não tem: “Estou aqui, dentre outros motivos, devido ao fato de eu querer ter um filho e não saber quando vou poder. Num dia tenho emprego, no outro não”.
O movimento da “geração à rasca” nasceu de uma conversa entre quatro jovens desiludidos com a precariedade do mercado de trabalho, e ganhou força na internet por meio do Facebook, do Youtube e da blogosfera. No dia da manifestação, havia cerca de 65 mil presenças confirmadas na rede. O acontecimento também repercutiu em outras cidades portuguesas como Porto, Braga e Coimbra.