A estratégia de comunicação de Maria de Lourdes durante a liderança do V Governo falhou devido à projecção da sua imagem pública como mulher, revelou a investigadora Carla Martins, no Congresso Internacional de História dos Média e do Jornalismo, esta quinta-feira, em Lisboa.
Num período liderado predominantemente por homens e em que as mulheres não eram convidadas ou não estavam disponíveis para a política, a nomeação de Maria de Lourdes Pintasilgo para a função de Primeiro Ministro foi uma novidade. No poder, Pintasilgo assumiu claramente a postura de "não se querer parecer com um rapaz", contou a investigadora.
Na comunicação, Carla Martins apresentou a sua análise da estratégia de comunicação política de Maria de Lourdes Pintasilgo e a forma como os média encararam a sua indigitação na liderança do governo.
No início, é visível uma grande cobertura mediática de Pintasilgo, no entanto, com o passar do tempo essa visibilidade foi esfriando. Juntamente com esta mudança, verificou-se também uma alteração ao longo do V Governo Constitucional do discurso jornalístico acerca da personalidade da senhora Primeiro Ministro. Com uma imagem próxima de “uma idealização de liderança política feminina”, caracterizada como emotiva, cooperante e assertiva, Maria de Lourdes Pintasilgo passa a ser definida segundo uma imagem mais próxima do estereótipo masculino: agressiva e dominante.
Esta análise resulta da intersecção de dois trabalhos de investigação: ‘Política no Feminino –Políticas de género e estratégias orientadas para a visibilidade das deputadas do Parlamente português’ e a dissertação de doutoramento da investigadora Carla Martins acerca de ‘Média, Política e Género – Representações do espaço público feminino na imprensa portuguesa´.