Corte nas Bolsas de Estudo agrava a condição económica dos estudantes universitários
Inês Reis
Maria de Fátima, Wilson e Ana
Os sucessivos cortes na acção social do ensino superior têm vido a agravar as condições de vida de muitos estudantes. Maria de Fátima, Wilson e Ana são alunos universitários em três instituições de ensino público diferentes e têm em comum o mesmo problema: concorreram à bolsa de estudos e não tiveram direito a recebê-la, o que lhes causou um enorme transtorno do ponto de vista económico.
Maria de Fátima Santos, 19 anos, estudante do 2.º ano de Gestão no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL). Sempre teve direito aos subsídios de acção social durante os ensinos básico e secundário, uma vez que tem 3 irmãos, o pai reformado e a mãe com alguns problemas de saúde que afectam o seu desempenho no trabalho.
Em Setembro de 2010, ingressou no ensino superior, tendo concorrido à bolsa de estudos e ao alojamento numa residência universitária. À semelhança de muitos outros estudantes do país, Fátima não teve direito a nenhum dos dois apoios. Como não dispõe de meios financeiros para poder alugar um quarto em Lisboa, tem de ir e vir todos os dias de autocarro, desde Torres Vedras até ao ISCAL, e tem ainda de abdicar de algumas despesas para conseguir fazer face a todos os gastos.
Wilson Patrocínio, 21 anos. É estudante do 2.º ano na licenciatura de Contabilidade e Fiscalidade, na Escola Superior de Gestão de Santarém (ESGS), e concorreu à bolsa em 2010, mas não teve direito a ela. Contabilidade e Fiscalidade nunca foi o seu sonho, “mas de acordo com a situação económica do país, é o que se adequa mais às necessidades do mercado de trabalho actual”, diz.
Para conseguir fazer face a todas as despesas que a frequência numa licenciatura exige, tem de abdicar de algumas saídas com os amigos e de trabalhar ao fim-de-semana no negócio da família, “porque não há dinheiro para tudo”. Segundo ele, a solução seria o Estado aumentar o apoio aos estudantes.
Também Ana Cláudia Silva, de 20 anos, concorreu à bolsa de estudos logo que ingressou no 1.º ano da licenciatura em Design e Animação Multimédia, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre (ESTG) e também não conseguiu o direito a usufruir dela. Hoje, frequenta o 3.º ano da mesma licenciatura e continua a não ter qualquer tipo de apoio por parte da acção social escolar.
Ana vive da mesada que os pais lhe dão. Com o agravamento da situação económica do país e com os cortes nos salários e nos subsídos, a sua mesada vai diminuir. “Os meus pais já me avisaram que este ano não posso ir todos os fins-de-semana a casa, porque temos de poupar até nos transportes”, confessou.