João Mira Branco, 20 anos, teve que deixar o curso de Ciência política no ISCTE porque ficou
sem condições para frequentar a universidade. Teve que optar entre o trabalho e o estudo.
O pior é que sem trabalho não poderia haver estudo. “(…) De momento não sou trabalhador
estudante, sou só trabalhador porque não há dinheiro para a parte do estudante.”
Este exemplo, é um dos muitos que se pode encontrar pelo país. Após ter entrado, já com
dificuldades, teve que arranjar um emprego, que, com a exigência do patrão passou de part-
time para full-time. “O meu primeiro ano foi difícil à brava. Durante o primeiro semestre
ainda consegui mais ou menos, ainda que faltasse a uma outra aula e tivesse de fazer uma
ou outra cadeira por exame. Mas no segundo semestre [no trabalho] começaram a pedir-me
para fazer horas, para trabalhar sábados, feriados e o raio e olha, nem meti mais lá os pés [na
faculdade].”
Muitos alunos, que entraram na universidade sem qualquer tipo de problema
económico, deparam-se actualmente com uma situação económica frágil. Não sabem o seu
futuro. Antes desta conjectura económica e social, todos sabiam que os pais os “sustentavam”
enquanto estudantes, mas, com o aumento do défice e com a aplicação das medidas de
austeridade, os estudantes (nacionais e internacionais) vêm o seu futuro entregue a si
mesmo. ”Existe uma grande parte que vai ter de começar a trabalhar ou fazer grandes
sacrifícios para continuar os estudos. É quase um método de selecção de classes: quem tem
dinheiro consegue continuar. Isto é, os resquícios da classe média. As pessoas de alta classe
económica conseguem e triunfam nos estudos pois é para isso que estão destinados, os seus
pais têm o auto-dever de os fazer triunfar na vida. Um filho de um juiz vai ser advogado de
renome ou comissário numa embaixada.”
Questionado sobre a descriminação nas universidades a alunos com carências
económicas, este diz: “Penso que não existe. Com a vulgarização da situação das famílias
e a maturidade assente na faculdade já não existe esse tipo de sistema repressivo ou de
sanção. As pessoas compreendem as situações e uma parte razoável do sector estudantil
tem de trabalhar (…) o que leva à compreensão e partilha de situação ou identificação com o
próximo.”