foradelinha    A crise económica chega às universidades Reportagens 07  
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      Estudos em Crise?


 
Ricardo Almeida 

  João Mira Branco, 20 anos, teve que deixar o curso de Ciência política no ISCTE porque ficou sem condições para frequentar a universidade. Teve que optar entre o trabalho e o estudo. O pior é que sem trabalho não poderia haver estudo. “(…) De momento não sou trabalhador estudante, sou só trabalhador porque não há dinheiro para a parte do estudante.”

Este exemplo, é um dos muitos que se pode encontrar pelo país. Após ter entrado, já com dificuldades, teve que arranjar um emprego, que, com a exigência do patrão passou de part- time para full-time. “O meu primeiro ano foi difícil à brava. Durante o primeiro semestre ainda consegui mais ou menos, ainda que faltasse a uma outra aula e tivesse de fazer uma ou outra cadeira por exame. Mas no segundo semestre [no trabalho] começaram a pedir-me para fazer horas, para trabalhar sábados, feriados e o raio e olha, nem meti mais lá os pés [na faculdade].”

Muitos alunos, que entraram na universidade sem qualquer tipo de problema económico, deparam-se actualmente com uma situação económica frágil. Não sabem o seu futuro. Antes desta conjectura económica e social, todos sabiam que os pais os “sustentavam” enquanto estudantes, mas, com o aumento do défice e com a aplicação das medidas de austeridade, os estudantes (nacionais e internacionais) vêm o seu futuro entregue a si mesmo. ”Existe uma grande parte que vai ter de começar a trabalhar ou fazer grandes sacrifícios para continuar os estudos. É quase um método de selecção de classes: quem tem dinheiro consegue continuar. Isto é, os resquícios da classe média. As pessoas de alta classe económica conseguem e triunfam nos estudos pois é para isso que estão destinados, os seus pais têm o auto-dever de os fazer triunfar na vida. Um filho de um juiz vai ser advogado de renome ou comissário numa embaixada.”

Questionado sobre a descriminação nas universidades a alunos com carências económicas, este diz: “Penso que não existe. Com a vulgarização da situação das famílias e a maturidade assente na faculdade já não existe esse tipo de sistema repressivo ou de sanção. As pessoas compreendem as situações e uma parte razoável do sector estudantil tem de trabalhar (…) o que leva à compreensão e partilha de situação ou identificação com o próximo.”

     
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Ricardo Almeida
ricardoalbertoalmeida@gmail.com