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      Salas vazias são o reflexo de um Ensino Superior "condenado"

São jovens e fazem parte da geração mais instruída que Portugal alguma vez teve, contudo, frequentam um ensino que vive cada vez mais "à rasca".


 

"Somos estudantes não somos clientes" - Foto de Paulete Matos
 

As dificuldades económicas têm assolado a vida dos estudantes do Ensino Superior, são obrigados a fazer "contas à vida" e, muitas vezes, estudar deixa de ser prioridade. Nas longas salas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa rostos, outrora presença assídua, começam a desaparecer. As cadeiras vazias representam cada um dos alunos que, por força da crise, se viram forçados a abandonar os estudos.

Paulo Antunes, dirigente associativo da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (AEFLUL), confirma esta realidade, contudo, afirma que a detecção dos casos de estudantes em dificuldades não é tarefa fácil, pois, muitas vezes, os alunos sentem vergonha pela situação em que se encontram.

Os estudantes têm uma nova vida, as despesas são controladas cêntimo a cêntimo. Actualmente fazem-se filas intermináveis para o microondas ou para a cantina da instituição, os gastos em fotocópias e transportes foram reduzidos ao máximo e muitos adquiriram o estatuto de trabalhadores-estudantes, tal como explica André Silva, no 2º ano do Mestrado em Comunicação e Cultura.

Sara Vargas, aluna do 1º ano do Mestrado em Ensino da Filosofia, também ela representante da AEFLUL, confirma este "negro” panorama, salientando que muitos alunos, inclusive trabalhadores-estudantes, desistem de prosseguir os estudos logo no acto de inscrição, uma vez que lhes é exigido o pagamento 40% do valor total da propina, cerca de 400 euros.

O primeiro caso de dificuldade em que aluno contactou directamente a Associação foi reencaminhado para a direcção da Faculdade, assim como aqueles que lhe sucederam, sempre com o apoio do corpo associativo. O pagamento das propinas de forma mais faseada foi a solução encontrada pelo Director, que de acordo com Paulo, tem aceite em alguns casos particulares o pagamento baseado numa nova tabela de prestações. Sara, conclui, que esta solução, encontrada pela direcção, não é de todo suficiente para solucionar todos os problemas atravessados pelos estudantes.

Juntos, naquilo a que chamam Associação em Movimento,Paulo, André e Sara são o espelho de uma Associação muito envolvida na luta pela Educação, Paulo salienta o carácter reivindicativo que a caracteriza, considerando que são os órgãos de poder os responsáveis pelo surgimento destes novos casos cada vez mais comuns, não só na Faculdade de Letras, mas também nas restantes instituições de ensino do país.

Contrariando o desemprego como destino que lhes é dado como certo, muitos jovens, arriscaram e ingressaram no Ensino Superior ambicionando um futuro melhor. Outrora ser-se licenciado era sinónimo de emprego, hoje, o desinvestimento no ensino, a falta de dinheiro ou empregos incompatíveis com os estudos, têm afastado muitos alunos do Ensino Superior. Vivem “à rasca” e, muitas vezes, a solução passa por deixar para trás o sonho de uma carreira na sua área de estudos.

     
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Ana Patrícia Silva
patricia.magalhaes_@hotmail.com