Em António Pires de Azevedo, a vida pessoal confunde-se com a da taberna que possui na Rua da Alegria, em Lisboa. Sem placas que identifiquem a entrada, esta é uma casa “muito conhecida por toda a Europa”, afirma o proprietário. “Vêm cá muitos turistas, que tiram fotografias. E eu acho graça”.Com 76 anos de idade, foi em 1948 que serviu os primeiros “copos de três” naquela casa. Nessa altura, além do vinho, eram o carvão e o petróleo que traziam dinheiro. E António Azevedo tinha de sobreviver. “Até aos 35 anos, andei a carregar sacos de carvão pelas ruas de Lisboa. E olhe que as casas não tinham elevador”, conta.
Hoje, a casa está preenchida por clientes habituais. Mas para garantir os turistas, os taxistas dão uma ajuda preciosa. “Temos umas negociatas com umas casas, e quando perguntam por sítios típicos, trazemo-los para cá” conta José Lourenço, que trabalha há trinta e cinco anos na “praça” de Lisboa.
“Isto aqui, é como uma família”. Quem o diz é Nuno Azevedo, filho do proprietário. E é por isso que o negócio vai dando para alimentar o casal, o filho e dois empregados. Mas os tempos mudam. “Há trinta anos, vendíamos cerca de 200 litros de vinho por dia. Hoje só 80, entre o especial, o tinto e o branco”, lamenta António Azevedo.
“Os velhos passam aqui o tempo. Isto é quase uma Santa Casa da Misericórdia”, declara António Azevedo. E escondendo uma lágrima, faz uma confidência. “Mais dia, menos dia, isto fecha. O meu filho quer ir-se embora.”
Texto de Luís Miguel Abreu e Ricardo Leal Lemos