Pedro Ribeiro tem 19 anos e encontrou na arte de rua o espaço por onde quer caminhar. Surdo de nascença, há quatro anos que faz parte da PalhaSurdos. O seu sonho é ser Palhaço. Porquê? Porque o que o lhe dá mais felicidade “é fazer as pessoas felizes, vê-las a sorrir com o que eu faço”, diz o Pedro, “um homem livre, amante da natureza”.
Criada em 1998 por Alda Padeiro, a PalhaSurdos é um grupo de animação formado por 12 pessoas: dos 14 aos 40 anos. São os elementos mais velhos e mais experientes que ensinam aos mais novos as várias habilidades que compõem os seus espectáculos. O Pedro faz de tudo um pouco: é perito na escultura de balões, é malabarista, anda em monociclo e faz teatro.
Além disso, ele frequenta o 10.º ano na Escola Artista António Arroios, e já fez dois workshops no Chapitô, para aperfeiçoar a técnica. Interessa-se por fotografia e quer ser actor. Neste momento é encenador e realizador de uma peça de teatro.
Apesar de considerar a arte de rua uma forma prática e divertida de ganhar dinheiro, não é isso que o motiva. “As pessoas só vêem dinheiro, só trabalham por dinheiro… Eu não gosto disso, nem quero ser rico”, desabafa o Artistazul. Pelas performances da PalhaSurdos, geralmente apenas a alimentação e o transporte lhes é pago. O dinheiro que possam ganhar é investido nos adereços e na produção do próprio espectáculo.
O grupo de palhaços actua em especial para a comunidade surda, mas não só. Participam quer em espectáculos de rua, quer em casamentos, aniversários, festas escolares, associações de surdos e de outros deficientes ou em qualquer outro evento para o qual sejam convidados. O objectivo é “animar as pessoas, mostrando-lhes que os surdos têm uma cultura própria muito bonita e muito rica e que são activos na sociedade.”
O Pedro sente que “os palhaços são sempre gozados”. E as crianças são o público mais difícil porque “nos saltam para cima, puxam o cabelo e apalpam”, embora muitas vezes os adultos ouvintes também se desinteressem pelo teatro, por não percebem a língua gestual. Mesmo assim, no fim, todos se divertem.
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A cultura no universo dos surdos
Texto de Inês Alves e Telma Nogueira