A arte de rua foi a salvação que António Gomes dos Santos, Staticman, encontrou para a sua vida. Consequência do trabalho como subchefe do serviço de transportes de um hospital de Coimbra, diariamente em confronto com a vida e a morte dos seus passageiros, foi-lhe diagnosticada uma grave doença, variante de Neurodermite acompanhada de Depressão profunda. A “doença da escravidão sociomental”, como a define António, deixou-o “sem um único cabelo no corpo”. Os médicos anunciaram a inexistência de cura. Mas “eu sou a prova de que eles também se enganam”, diz com um sorriso irónico o hãToino de Lírio, como também gosta de ser chamado. A prática de Yoga, no sul de França, aliada a uma filosofia de quietude, foi a base para a criação do homem estátua, performance de rua que lhe trouxe reconhecimento e vontade de viver.
Para Enano Free-Artist, palhaço de rua, “os males do mundo têm uma só cura: o riso!” Através dos seus espectáculos, ele pretende criar um espaço íntimo onde as pessoas perdem traumas e timidez, e participam.
Os pacientes com Síndrome de Down são o seu público mais especial: “São uns autênticos palhaços, cheios de vontade de brincar e sem vergonhas”. À semelhança do Cúpido Enano, um palhaço inocente que acredita que “ é através do amor que podemos chegar onde queremos”, eles são os que de uma forma mais pura se conseguem expressar.
A arte de rua pode ser também uma forma de reinserção social. Com o projecto Malabarando, Nuno Dores ensinou crianças de Almada e da Cova da Moura a construir objectos de malabarismo a partir de lixo reciclado. “Enquanto os miúdos estavam ocupados a descobrir talentos não enveredavam por maus caminhos”, diz o malabarista, ao mesmo tempo que lamenta a falta de verbas para a continuação do programa.
Texto de Inês Alves e Telma Nogueira