Há artistas que escolhem a rua como o seu palco de eleição. Até porque “nas ruas temos os palcos que quisermos… Só temos de adaptar o espectáculo ao local, seja ele uma praça ou um cantinho, à beira do rio ou do mar”, refere, com um sorriso, António Gomes dos Santos, estátua viva. Membro do grupo Pose – A arte da paz, ele define a rua como “liberdade total”.
“A arte de rua é a arte mais democrática que existe”, defende o homem estátua, numa ideia que é partilhada por Cláudia Candeias, mentora do projecto de teatro estático – o Grupo In Temporal. Ela realça o facto do público de uma performance de rua ser o mais variado possível: desde os que podem pagar, aos que nada têm. Desta forma, o acesso à arte e à cultura é para todos sem excepção.
Além disso, Cláudia considera a rua um desafio maior para qualquer artista: “a recepção é a mais imediata e sincera - só paga quem quer, quanto quer, e não existem constrangimentos para aplaudir ou reprovar o espectáculo, nem para o abandonar a meio, como acontece no teatro a porta fechada.” A actriz sente a rua como um forte impulsionador do crescimento do artista.
Aos olhos de José Torres, o palhaço Enano Free-Artist, também marido de Cláudia, “a rua é o teatro da liberdade”. Ele garante que “sem público não há espectáculo”. A relação com as pessoas baseia-se num “dar e receber”, onde a improvisação é o que mais o cativa, neste reino do imprevisível.
Os artistas de rua, adeptos da paz, lutam por uma arte livre que permanece à margem da lei. Enano mostra-se indignado pelo facto de não existir legislação para a arte de rua: “não percebo porque não existe uma lei que estipule os nossos direitos e deveres, como existe para qualquer outro trabalhador.” O confronto com os polícias é frequente “e nem eles sabem como agir…”, conta José Torres, confessando que muitos polícias presenciam as suas actuações, batem palmas, e no fim avisam-no que não pode voltar a representar ali, uma vez que a lei não o permite.
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Grupo In Temporal
Texto de Inês Alves e Telma Nogueira