Ainda não tinha avistado a sede dos Axu-Mal, e já do final da rua se percebia onde ficava. Entrei, subi as escadas da casa recuperada pelo grupo, e encontro Álvaro Rocha de bifana e cerveja na mão. Á direita, fica o bar que abastece os elementos do grupo, mas que tem sempre as portas abertas para algum amigo que queira entrar, sentar-se, jogar umas “suecadas” ou apenas conversar. Aqui, o Carnaval é verdadeiramente o ano inteiro.Os Axu-Mal foram fundados em 1987 por um conjunto de amigos que entenderam que seria interessante criar um grupo de pessoas mais velhas, sem pretensões de aspecto comercial, que preservassem as características do verdadeiro Carnaval fora dos corsos.
Nesse ano, conta Álvaro Rocha, “vieram a Ovar actuar os GNR, e para abrir o espectáculo convidaram uma banda de garagem vareira – os Axu Bem. Na primeira reunião para a escolha do nome, há um elemento que diz: “Oh pá… Há um grupo em Ovar que se chama os Axu Bem, então vamos ser os Axu-Mal! E para o espectáculo já sei… também vamos ser os GNR – Grande Noite de Reis!”, porque a nossa forma de actuar assemelhava-se aos grupos de reis.”, explica.
Para além de brincarem e se divertirem juntos, a grande motivação do grupo é conseguir fazer com que as pessoas brinquem e vivam com eles o Carnaval, “isso é que o verdadeiro espírito carnavalesco”, diz com convicção Álvaro Rocha.
E por isso, a Grande Noite de Reis é a coroação dos Axu-Mal. Nessa noite, o grupo sai à rua. De bar em bar, tocam e cantam músicas que, embora falem das grandes questões nacionais ou internacionais, com uma forte carga política e social, têm sempre uma pontinha de brincadeira.
Álvaro Rocha explica que há muito que percebeu que as pessoas ouvem melhor uma crítica num contexto de brincadeira, do que se ela emergir de um discurso ou saltar das páginas de um jornal. Mas o mais importante, salienta, é que os Axu-Mal procuram sempre a imparcialidade, “todas as críticas, todas as cantorias, tudo o que é feito, não importa quem está no poder. Quem tiver de ser criticado é. E aí granjeamos respeito.”
É aqui que está a essência dos Axu-Mal, “a forma como abordamos os assuntos e conseguimos comunicar com as pessoas e que as pessoas comuniquem connosco”.
O grupo conseguiu, ano após ano, e já lá vão quase 30 anos, que o povo vareiro anseie pelas saídas dos Axu-Mal. Aguardam ansiosamente aquela presença “negra” - “cerca de 50 homens vestidos de fato preto, cartola e capa de estudante, a fazer lembrar as serenatas de Coimbra, com os seus instrumentos de corda e vozes sonantes”. À espera horas antes, centenas de pessoas enchem as ruas e os cafés por onde o grupo vai passar; nos restaurantes, as mesas estão reservadas com mais de quinze dias de antecedência.
Álvaro Rocha sorri, “isto é próprio das grandes estrelas”.
G.N.Reis – 2º Numaro – “Tira Voto, mete Voto”
Tira voto, mete voto / É assim é trinta anos
Tira voto, mete voto / E nunca mais acertamos
Tira voto, mete voto / São assim as eleições
A trampa é sempre a mesma, só mudam os figurões
Co Sókrates já não vou / Pois dásneiras não desiste
Um “Alegre” atraiçoou / Para dar apoio a um “Triste”
E o Caivaco lá ganhou / com o “Alegre” a seguir
O “Triste” que só berrou / Prá reforma já pode ir
Tira voto, mete voto…
As escutas tão na moda / Do que o Moura se lembrou
O homem sabe da poda / Nem o Sampaio escapou
No meio da porcaria / E tanta gente escutada
Merdas com a tal pia / Cá pra mim não vão dar em nada
Olhá escuta, olhá escuta / Que incomoda tanta gente
Tanto escutam uma puta / Como o nosso presidente
Olhá escuta, olhá escuta / isto é o que está a dar
Cuidado ao dar um peido / Pode o Moura escutar
(…)