“Boa noite, bem-vindos à Tasca do Chico”, anuncia uma voz aproveitando a pausa da viola e da guitarra portuguesa. O som vem de uma das muitas portas da rua do Diário de Notícias, no Bairro Alto, em Lisboa. Lá dentro, o pequeno espaço não chega para tantas pessoas que se acotovelam neste ambiente boémio para ver e ouvir o que ali as trouxe: o fado espontâneo.A Tasca do Chico é paragem obrigatória para quem gosta de fado. E para quem canta. Porque, dentro das suas paredes, o público passa a fadista, a convidado de honra junto aos músicos residentes: Gentil Ribeiro, na guitarra portuguesa, e Bruno Costa, na viola. “Ora, vamos continuar, mas desta vez não vamos ouvir cantar o fado, mas sim a guitarra e a viola. Uma salva de palmas para eles e vamos lá!” , anuncia João Carlos, fadista e gerente da casa.
Nem a chuva afasta os clientes da Tasca. Seis mesas com bancos corridos não chegam para os que estão de pé, ao balcão, à porta, por todo o lado. Excepto no canto em que se canta o fado.
00h30. Os clientes continuam a entrar. Bebem uma imperial, petiscam, aplaudem o fadista do momento. Nas paredes, fotografias dos famosos que lá passaram assistem às vozes da noite. Mariza, Camané, Fernando Maurício. Todos já passearam por esta casa. A guitarra portuguesa dá o último acorde à canção. “É mais uma imperial” , ouve-se. Afinal, a noite é ainda uma criança no Bairro Alto.
A Tasca do Chico abriu há 10 anos mas a pouca história está já repleta de estórias. Os “apontamentos de fado” , como João Carlos orgulhosamente os chama, são cantados às segundas, terças e quartas, pela noite fora. Os sons fadistas da tasca são referidos em variados guias turísticos e até serviram de mote a um CD, “ Ó Vadio”.
São muitos os que lá entram para ouvir ou cantar. Jovens e menos jovens. Portugueses ou turistas. Amadores ou fadistas de profissão. Contudo, a Tasca do Chico não é exemplar único do fado lisboeta. Tem uma alma própria na capital. E é uma prova de que o fado está vivo e recomenda-se.
03h00. Ouve-se a desgarrada de Edgar Castro. “Quando canto sou feliz / Trago na alma a beleza. É na gente deste país / Que há fado, concerteza”. Aplausos. Na despedida a contra gosto, uma última mirada à placa que flanqueia a entrada: “Fado Vadio”.
Carla Sofia Oliveira
Marisa Vitorino Figueiredo
Nélia Silva