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      Fado com todos
O público das casas de fado


 

Rosinha de Braga, na Esplanada da Mouraria
  Desengane-se quem pensa que só os mais velhos saem para ouvir fado. Em pleno Bairro Alto, a maioria dos clientes são jovens à procura de um local onde petiscar e beber um copo. Vão ali para conviver e descontrair depois de um dia de aulas ou trabalho. Nuno Santos é um desses clientes. “Venho aqui para descontrair, divertir-me, rir um bocado e… beber!” , explica, entre risos e pede: “Não me chame Senhor Nuno! Assim é como me tratam no trabalho. Aqui sou só Nuno!”.

O Bairro Alto é local de passagem também para turistas que querem conhecer o Fado. Uma jovem francesa explicou que foi ali parar por intermédio de um amigo luso-descendente. “Tenho raízes espanholas e já conhecia este tipo de música melancólica. Estou a gostar muito do ambiente Bairrista.”

Nas casas tradicionais, o público é mais velho e recatado. Procura apreciar o fado, na penumbra do jantar. Mesmo em época baixa, os clientes habituais mantêm-se assíduos. “Rosinha de Braga”, presença constante das noites da Mouraria, é a mascote desta casa. “Venho aqui há um ano. Todos os dias. Gosto de cá vir. Não sei cantar mas às vezes até canto”. Rosinha fala com todos os clientes, mesmo aqueles que não conhece. Acena-lhes e tira-lhes sempre a fotografia da praxe, porque “gosta de toda a gente” , explica o empregado.

Nas casas de fado, há a evocação de um público ausente. São comuns as paredes cobertas por fotografias de fadistas que por ali passaram. Desde os mais famosos, como Mariza ou Camané, aos mais desconhecidos amigos de bairro. Além de fadistas, na Tasca do Chico relembram-se até actores e outras celebridades que por ali passaram, como Marcos Palmeira ou Fafá de Belém.

Entre os presentes há uma figura constante: o dono da casa ou o gerente. Circula habilmente entre o público, abeirando-se das mesas para saber se tudo está bem, chegando por vezes a servir o cliente. Numa familiaridade bairrista, donos e fadistas parecem confundir-se com o público. No sentido inverso, em algumas casas, há no público quem se transforme fadista ao sabor da inspiração do momento. Assim se dá voz àquilo que nestas andanças do fado só pode ser chamado de fado espontâneo.

     
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Marisa Figueiredo
marisa.fig@gmail.com