Texto nº8

 

O irascível é um incitador de homens,

Cria facções entre os jovens;

Se descobrires que alguém o segue,

(...)

Denuncia-o perante os conselheiros;

Elimina-o. É um rebelde.

O falador é um desordeiro.

Refreia a multidão, suprime o seu calor.

(...)

Possas tu justificar-te perante deus.

Que um homem possa dizer mesmo na tua ausência

Que puniste de acordo com o crime.

O bom carácter é a ventura do homem;

A blasfémia do furioso é dolorosa.

 

Se és dotado no discurso, vencerás.

A língua é a espada do rei;

Falar é melhor do que lutar.

(...)

A sensatez é uma escola para os nobres.

Aqueles que sabem que ele sabe não o atacarão,

Nenhum crime ocorre quando ele está perto;

A justiça é-lhe incutida,

Moldada nos ditos dos antepassados.

Imita os teus pais, os teus ancestrais.

Repara, as suas palavras permanecem nos livros.

Abre-os, lê-as, copia o seu conhecimento.

O que é ensinado torna-se dotado.

Não sejas mau, é bom ser amável.

Faz com que a memória de ti perdure através do amor por ti.

Aumenta o povo, favorece a cidade.

Deus será louvado através das tuas doações.

(...)

 

Respeita os nobres, sustenta o teu povo,

Fortifica as tuas fronteiras, as tuas patrulhas fronteiriças;

É bom trabalhar para o futuro.

Respeita-se a vida do previdente,

Enquanto aquele que confia falha.

Faz com que o povo acorra a ti pelo teu bom carácter.

Ignóbil é aquele que deseja a terra do seu vizinho,

Louco, aquele que cobiça o que os outros possuem.

A vida na terra passa, não é longa.

Feliz aquele que é recordado.

Um milhão de homens não ajuda o Senhor das Duas Terras.

Haverá alguém que viva eternamente?

Aquele que vem com Osíris passa,

Tal como ele deixa o que se perde.

 

Promove os teus oficiais para que eles hajam de acordo com as tuas leis.

O que tem riqueza em casa não será parcial,

É um homem rico que não precisa de nada.

O pobre não fala com justiça,

Não é justo o que diz “Quem me dera ter!”,

Inclina-se para o que lhe paga.

(...)

Poderoso é o rei que tem conselheiros,

Abastado o que é rico em nobres.

Fala a verdade na tua casa,

Que os oficiais da província te respeitem;

A rectidão beneficia o Senhor,

A fachada da casa põe medo nas traseiras.

 

Faz justiça e perdurarás na terra;

Acalma o choroso, não oprimas a viúva,

Não expulses um homem da propriedade do seu pai,

Não reduzas as propriedades dos nobres.

Acautela-te de punires de forma errada,

Não mates, pois não te serve.

Pune com açoites, com a detenção,

Assim a terra estará em ordem;

Excepto no caso do rebelde cujos planos são descobertos,

Pois deus conhece os conspiradores,

 (...).

 

(Texto adaptado de Miriam Lichtheim, Ancient Egyptian Literature vol. I: The Old and Middle Kingdoms, Berkeley : University of California Press, 1975-1976, pp.99-100)