Conta-Corrente

 

03-10-06

  • Apresentação.

  • Explicitação da metodologia de trabalho na unidade curricular.

  • Comentário do Programa e da Bibliografia da unidade curricular.

ACTIVIDADES EDUCATIVAS

 

Actividades educativas

Tempo de trabalho  do estudante

(em %)

 

Avaliação (em %)

Trabalho em grupo

25

20

Apresentação oral do trabalho

10

10

Trabalho em grupo

25

20

Apresentação oral do trabalho

10

10

Teste escrito de avaliação

30

40

 

10-10-06

  • Apresentação do sítio na internet de apoio à unidade curricular.

  • Orientação bibliográfica geral: SANMARTÍN, Joaquín e SERRANO, José Miguel, Historia Antigua del Próximo Oriente. Mesopotamia y Egipto, Madrid, Akal, 2006.

  • Explicitação dos objectivos dos dois trabalhos em grupo, previstos no âmbito da avaliação da unidade curricular.

  • Os grupos serão constituídos por pares.

  • Cada tema será trabalhado por dois grupos.

  • Cada um dos grupos trabalhará autonomamente e apresentará o seu próprio texto. Será sorteado o grupo que defenderá o seu trabalho, cabendo ao outro grupo contrapor, criticar e complementar.

  • Cada trabalho deverá ter no máximo 5 páginas. Veja as orientações para a redacção.

  • O trabalho deverá ser entregue até dia 14 de Dezembro.  

 

12-10-06

 

Plano de aulas práticas

Outubro 2006

Novembro 2006

Se Te Qua Qui Se Sa Do

                   1

 2  3  4  5  6  7  8

 9 10 11 12 13 14 15

16 17 18 19 20 21 22

23 24 25 26 27 28 29

30 31

Se Te Qua Qui Se Sa Do

       1 x2  3  4  5

 6  7  8 x9 10 11 12

13 14 15 16 17 18 19

20 21 22 23 24 25 26

27 28 29 30

Dezembro 2006

Janeiro 2007

Se Te Qua Qui Se Sa Do

             1  2  3

 4  5  6 x7  8  9 10

11 12 13 14 15 16 17

18 19 20 21 22 23 24

25 26 27 28 29 30 31

Se Te Qua Qui Se Sa Do

 1  2  3 x4  5  6  7

 8  9 10 11 12 13 14

15 16 17 18 19 20 21

22 23 24 25 26 27 28

29 30 31

 

Caracterização geográfica:

Egipto e Mesopotâmia  

  • A Mesopotâmia é, em boa parte, um conceito essencialmente de ordem geográfico-cultural (vd. os mapas que apresento em anexo). Os rios Tigre (Idiqlat) e Eufrates (Purattu) constituem artérias vitais que estruturam o território.

  • Nascem nas montanhas e quando chegam à planície as suas águas cobrem amplamente as terras.

  • A Mesopotâmia é limitada pelas montanhas, pelos desertos e pelas estepes. Limitada pelas montanhas arménias, a norte, os desertos da Síria e da Arábia, a oeste e os montes Zagros, a este, que separam esta região do planalto iraniano.

  • Similaridades entre norte e sul: recursos agrícolas abundantes; escassez de minerais, pedra e madeira de qualidade. Tornavam-se necessários os contactos com o exterior: África – marfim e ouro; Síria e Líbano – madeira, mármore, basalto, cobre cipriota; Ásia Menor – prata e cobre; Pérsia e Elam – madeira, cobre, estanho, lápis-lazúli (Afeganistão).

  • Estas necessidades abriram a Mesopotâmia ao exterior. O comércio e a guerra constituíram as formas que concretizaram essa abertura.

  • O Egipto (ver mapa) é caracterizado por uma geografia que favorece a sua unidade e coesão. O Nilo permite a sobrevivência do país, ordenando e estruturando o território. A área cultivável está limitada ao vale do rio e ao delta. Os seus limites naturais conferem unidade ao país e protegem-no do exterior. A norte, encontra-se o Mediterrâneo; a oeste, está o deserto líbio; a este, encontra-se o deserto oriental; a sul, as cataratas do Nilo impõem obstáculos à navegabilidade do rio.  

 

Comparação entre Egipto e Mesopotâmia

  • No Egipto, a natureza origina fronteiras fixas, com excepção do sul. Na Mesopotâmia, os limites naturais são mais ténues, com excepção do deserto arábico. Há um convite à unidade, no caso egípcio. No caso da Mesopotâmia, os limites são mais as estepes do que os desertos. As fronteiras naturais não impedem os contactos. A Mesopotâmia não estava vocacionada para a unidade apesar das experiências expansionistas. Facilmente a região se fraccionava, se abria a infiltrações e até a invasões. Isto não impediu a originalidade e até uma certa unidade da sua cultura.

Reflexão: A geografia condicionou a história da Mesopotâmia  e do Egipto? E de que forma?

 

17-10-06

 

Processo de urbanização

  • A fixação das populações nos vales dos rios. Comunidades rurais que se dedicavam essencialmente à agricultura.

  • Ao longo do Tigre, o estabelecimento de povoados importantes foi inicialmente mais disperso. Afastados de ambos os rios, encontram-se alguns povoados, especialmente no sul: os principais são Larsa e Isin.

  • Hoje, os sumeriólogos sabem que existiu uma colonização anterior aos sumérios. Kramer classificou esta ocupação pré-suméria como El Obeid.

  • Origem imprecisa dos Sumérios. A arqueologia indica uma brusca e profunda evolução cultural no sul da Mesopotâmia, pela segunda metade do IV milénio. A cultura suméria impõe-se ao longo dos cursos dos rios, deixando a sua marca civilizacional em toda esta região.

  • A importância da água: as diferenças geográficas e ambientais entre a Alta e a Baixa Mesopotâmia. Os problemas fundamentais da escassez e do excesso de água.

  • A criação de um sistema de irrigação. As diferenças entre o norte e o sul.

  • Na Alta Mesopotâmia, o sistema de irrigação (diques e canais) obrigou a um esforço superior, uma vez que a água não era tão abundante ou não estava tão próxima.

  • As preocupações com a irrigação levaram à necessidade de centralizar o poder, emergindo um grupo dirigente, fixado nas cidades.

  • As cidades revelam maior desenvolvimento sócio-económico, divisão e especialização da produção, maior diferenciação social. É nas cidades que se fixam as estruturas políticas e que se centraliza o poder.

 

19-10-06

 

Época Proto-Urbana

  • meados do IV milénio. Baixa Mesopotâmia. Algum desenvolvimento civilizacional mas ainda comunidades aldeãs. Só com um novo impulso civilizacional e uma outra organização surgem as primeiras cidades. Primeiros indícios de urbanização: olaria pintada (Uruk e Susa). Atravessa-se uma revolução urbana. Paralelamente, verifica-se o aparecimento da escrita: fase proto-literária.

  • Cerca de 3000, desenvolvimento acelerado. Aparecimento da escrita e actividade arquitectónica mais intensa.

  • A civilização urbana surge quase simultaneamente na Suméria e no Elam e também noutras regiões (Assíria, Irão).

 

As estruturas político-religiosas na cidade

  • A configuração política da Mesopotâmia, particularmente da Baixa Mesopotâmia, caracterizava-se pela existência de numerosas cidades-estado e pela consequente ausência de unidade política extensível a um espaço mais vasto, o que é, em parte, explicado pelas condições geográficas desta região que facilitavam o isolamento e o separatismo das comunidades urbanas.

  • É possível que, de início, o templo mais importante da cidade, o templo da divindade tutelar ou principal, associasse também o governo da cidade. Nesta altura, o chefe da cidade (EN = senhor), assumia, simultaneamente, as funções políticas e as funções de carácter religioso. O EN era o administrador da cidade e também o responsável pelo culto, particularmente o culto da divindade principal da cidade. A ideologia explica esta dupla condição do chefe, na medida em que considerava o deus o verdadeiro senhor da cidade, restando ao EN o estatuto de administrador e de seu representante (voltaremos a esta questão; no plano ideológico, esta dupla condição manter-se-á). Por conseguinte, as funções políticas e as funções religiosas não se distinguiam na pessoa do EN. Era ele que ocupava o lugar de destaque nas grandes cerimónias religiosas, liderando o culto e responsabilizando-se por ele.

 

  • Primeiros trabalhos (Mesopotâmia): entrega a 14 de Dezembro

  • Segundos trabalhos (Egipto): entrega a 4 de Janeiro

 

 

24-10-06

 

  • Esta preponderância do templo traduzia-se também em poder económico. Era um grande proprietário fundiário. Nas suas terras cultivava-se e criava-se gado. O templo possuía as suas oficinas de artesãos, os seus armazéns, os seus recursos. O templo transaccionava mercadorias e as suas produções, ocupando um lugar muito significativo no comércio, o qual ia para além da própria cidade.

  • Como grande proprietário de terras, o templo reservava parte para a satisfação das suas próprias necessidades, distribuindo algumas parcelas como forma de remunerar o pessoal que trabalhava para o templo e outras destinava-as ao arrendamento. Mais tarde, o Palácio e os particulares emergem também como proprietários fundiários, contrariando a tese de um monopólio absoluto por parte do templo.

  • Progressivamente, sobretudo já na primeira metade do III milénio a.C., entre o período proto-urbano recente e Akkad, as cidades começam a reforçar as suas estruturas defensivas. Terá sido por esta altura que começou a surgir o palácio como edifício autónomo e diferenciado do templo. Talvez a conflituosidade entre as cidades se tenha tornado mais intensa; talvez se adivinhassem as ameaças extra-sumérias. Terá sido então que o chefe da cidade se terá começado a intitular LU.GAL (rei). O primeiro terá sido Mebaragesi, rei de Kish (c. 2700 a.C.). Hoje, a bibliografia coloca, no entanto, o início do período dinástico cerca de 2900 a.C.

  • Esta conflituosidade permanente é um dos factores que permite explicar a centralização do poder e a emergência de um chefe temporal. Apesar da persistência da fragmentação política, verifica-se uma tendência para o expansionismo. Expressões como «rei das quatro regiões» e o domínio «desde o mar inferior até ao mar superior» serão depois confirmadas na Assíria e na Babilónia: rei da totalidade  e ambições de império universal. Por enquanto, é apenas uma noção teórica. Quem comanda na guerra torna-se também o chefe político da cidade e embora conserve, no plano ideológico, a sua supremacia como grande sacerdote, a verdade é que a esfera do temporal se vai progressivamente distinguindo da esfera do culto e do religioso.

  • O Palácio vai ganhando contornos semelhantes aos do Templo, com as suas terras, com as suas oficinas, com os seus armazéns, com os seus camponeses, com os seus artesãos, com os seus mercadores.

 

 

26-10-06

 

  • Templo e Palácio são as grandes estruturas políticas e sociais da cidade. Aglutinantes, levam à constituição de dois mundos diferenciados. No entanto, ao contrário do que, durante algum tempo, se tornou comum defender, não se verifica uma rivalidade entre o Templo e o Palácio. A definição das esferas de actuação do Templo e do Palácio é um processo gradual que não se revela estruturalmente conflituoso, apesar de haver alguns momentos mais críticos. Templo e Palácio complementam-se, dando forma à ordem social, política e religiosa na cidade. Colaboram, na medida em que se o Palácio alimenta o Templo com doações de terras e de outros bens, este contribui para a sua legitimação política e ideológica.

  • O rei exerce o seu poder em níveis que podemos formalmente distinguir:

- O culto. O rei é responsável pelo culto, construindo templos, restaurando outros, fazendo-lhes doações, sacrificando aos deuses, ocupando um papel de destaque nas cerimónias religiosas mais importantes.

- A administração. O rei administra o património da divindade tutelar, o que significa que governa a cidade em seu nome. Por outro lado, deve defendê-la de ameaças exteriores e até aumentar o seu domínio.

- A justiça. A justiça é aqui um conceito muito abrangente, envolvendo não apenas a que se pratica nos tribunais, mas reflectindo o plano mais profundo das relações entre as pessoas e entre estas e os deuses. O rei apresentava-se como o garante da equidade, da harmonia na sociedade e da obediência moral aos deuses

 

Tendências

  • O desenvolvimento do direito. Sintomático da complexificação e consolidação do Estado. Devido às grandes transformações económicas e sociais: aumento da produção agrícola, desenvolvimento das actividades transformadoras, incremento da propriedade privada, desenvolvimento das relações comerciais. As várias compilações legais, mais do que constituírem instrumentos da aplicação da justiça, reflectem a organização jurídica de uma sociedade em transformação.

  •  A situação de guerra endémica entre as cidades tornava necessária a mobilização sempre pronta dos seus habitantes, o que favorecia a ocorrência de abusos e de impostos pesados. Impunham-se as reformas sociais e económicas. As primeiras medidas conhecidas são as reformas de Entemena (Lagash, c.2430 a.C.). Seguem-se as reformas de Urukagina. De acordo com a mentalidade da época, as reformas surgem como uma forma de contrato com a divindade tutelar da cidade (Ningirsu). É possível que se tenha verificado a conivência do clero de Lagash que tinha sido fortemente penalizado pelo predecessor Lugalbanda. Restabelecem-se os direitos do clero lagashita com a devolução de bens imóveis; restabelece a justiça para com os indigentes; protege o órfão e a viúva; amnistia presos; proíbe a extorsão; reduz impostos. Ao que parece, estas reformas correspondem a um esforço geral legislativo e reformista que ocorre em diversas cidades sumérias por volta de 2400 a.C. 

 

·        A semitização da Mesopotâmia

  • Não se trata de um conflito étnico ou de uma invasão. As divisões entre o norte e o sul não são mais decisivas do que os conflitos entre as diversas cidades e a procura da hegemonia (caso de Lagash e Umma).

  • Deve admitir-se o aumento de elementos semitas na população mesopotâmica. Estas ondas atingiram todo o Médio Oriente antigo. Alcançaram também o Egipto, com as migrações para o Delta, no I Período Intermédio.

  • Misturam-se com as populações sedentárias, formando uma síntese e assimilando a cultura suméria.

  • O sul foi marcado por uma longa ocupação suméria bastante homogénea. No norte, temos um predomínio semita. O reino de Kish parece ter sido a fronteira. O elemento semita foi-se impondo progressivamente. As referências foram-se tornando cada vez mais frequentes nos arquivos de Lagash, Nippur e Adab.

  • Lugalzaggesi rompe com a tradição puramente suméria ao fazer referências mais universalistas nas suas inscrições e ao manter um panteão que não se limita aos deuses da cidade. 

 

Da cidade-estado ao «império»   

  • A conflituosidade permanente entre as cidades-estado e a procura constante da hegemonia leva a que, já no séc. XXIV a.C., Lugalzagesi (Umma) tenha conseguido unificar a Suméria. A sua realeza assenta em referências mais universalistas (nas inscrições reais e na titulatura) que estavam ausentes dos horizontes políticos, mais limitados, das monarquias das cidades sumérias.

  • É com Sargão de Akkad (ler o texto da Lenda de sargão) que se verificará, no entanto, um impulso mais significativo a caminho de uma unidade política mais extensa e mais permanente. No séc. XXIV a.C., Sargão consegue dominar a Suméria, vencendo Lugalzagesi, lançando o ataque cerca de 2370 a.C.; submete o Elam. As inscrições referem-se, porventura com exagero, a conquistas no norte da Síria e na Anatólia. No entanto, mesmo que se trate de efabulação da propaganda real, estas afirmações revelam as novas ambições políticas da monarquia acádica.

  • A monarquia acádica concretiza a união de Sumer e de Akkad, contribuindo para a emergência de uma civilização que sintetiza a herança cultural dos Sumérios, fortemente sedentária e urbana, e a cultura semita, de raiz diferente, marcada por tradições, práticas, costumes e por uma mundividência que encontram explicação nas suas origens nómadas e tribais. No entanto, apesar de Sargão dar expressão política a esta síntese, o fenómeno de sincretismo cultural não era novo e começara muito antes.

  • Atitude do centro político em relação às periferias e zonas submetidas. Relativamente à Suméria e ao Elam, Akkad procurou não susceptibilizar, optando por permitir que essas regiões mantivessem as suas instituições, ainda que submetidas ao centro. Todavia, esta autonomia era muito relativa. Os ensi das cidades não passavam de governadores dependentes de Akkad. A antiga aristocracia foi substituida por uma nobreza de funcionários dependentes também de Akkad.

  • Os particularismos regionais não desapareceram e nos reinados seguintes, depois da morte de Sargão, a contestação a Akkad intensificou-se. Com Naram-Sin, a vaga de contestação acentuou-se profundamente, atingindo todo o império. Às tendências centralistas e integracionistas de Akkad opunham-se as tradições políticas regionais e os particularismos antigos. Entretanto, nos montes Zagros, os Lullubi e os Gútios ameaçavam as fronteiras do império. O Elam, que já gozava de relativa autonomia, revoltou-se após a morte de Naram-Sin. A ocidente, os nómadas amorritas penetravam no reino e começavam a instalar-se. Cerca de 2230 a.C., os Gútios invadem a Mesopotâmia, não poupando o próprio Elam.

 

Responda ao 1º Teste Diagnóstico e siga as instruções.

IMPORTANTE: O questionário ser-me-á enviado automaticamente por e-mail. Todavia, na eventualidade de não usar o Outlook Express, deverá seguir os passos indicados:

1) Na página do questionário, ir à janela "Editar" e escolher a opção "Seleccionar tudo";

2) Escolher a opção "Copiar";

3) Dentro do corpo da mensagem de correio, faça "Colar";

4) Envie o e-mail para F.Caramelo@netcabo.pt

 

31-10-06

 

Características estruturantes

da monarquia de Akkad     

  • O Estado pratica uma política comum e centralista.

  • Um exército mais numeroso revelou-se um instrumento essencial para a concretização desta política.

  • Uma nova titulatura que traduz a amplitude das suas ambições políticas (šar kiššatim = rei da totalidade; šar kibrâtim arba’im = rei das quatro regiões), em substituição do título sumério de lugal Kiški.

  • Sincretismo religioso.

  • O Templo perde algum poder económico, enquanto o Palácio e os particulares reforçam o seu peso na posse da terra.

  • O comércio internacional e as grandes rotas são facilitados pela existência de uma unidade política extensa.

 

 Ur III e o «renascimento sumério»

  • Após a decadência de Akkad (inícios do séc. XXII a.C.), instala-se na Mesopotâmia um período que se caracteriza novamente pela ausência de unidade política e que passa, em grande medida, pelo domínio gútio, o qual não se traduz na reposição de um poder extensivo que substituísse Akkad. Algumas das cidades sumérias aproveitam esta situação e «renascem das cinzas». Lagash e Uruk começam por protagonizar este processo de recuperação. No entanto, esta revitalização assentou numa espécie de submissão relativamente aos gútios. Uruk submeterá os Gútios no final deste século. Será com Utuhegal, cerca de 2116 a.C. Durante o seu reinado, Ur-Nammu é designado shagin de Ur. Este revolta-se e torna-se independente. Será Ur, até aí submetida a Uruk, que, liderada por Ur-Nammu, protagonizará a nova unidade política na Mesopotâmia, ainda que com contornos mais limitados do que Akkad. A relação ancestral com Uruk será mantida em termos ideológicos. Para justificarem a sua legitimidade, os reis de Ur sustentarão uma relação com os longínquos reis-heróis de Uruk. Intitulam-se «filho nascido de Ninsun» (mãe de Gilgamesh) ou «irmão de Gilgamesh». Lugalbanda é visto como o pai mítico dos reis de Ur. Ur-Nammu concretizará as pretensões de Utuhegal; derrota Lagash e instala ali um ensi; pacifica o resto do território. Para este novo império, Ur-Nammu encontra um novo título - «rei de Sumer e de Akkad». Reconstruiu templos e outros edifícios públicos, rodeou a capital de muralhas, abriu canais e deu atenção à regulação social.

  • O seu esforço reorganizativo, para além da administração do território e da justiça, manifesta-se no plano da construção: construção e reconstrução de edifícios públicos e templos.

  • Shulgi continuará a obra de seu pai. Reina durante 48 anos. Dedica-se, na primeira parte do reinado, à actividade administrativa interna: reconstrução de templos, reforma de pesos e medidas, reorganização do exército. Intitula-se «rei das quatro regiões».

  • Na segunda parte do reinado, volta-se para a actividade militar. As franjas do reino estavam em efervescência.

 

Características estruturantes

  • Ur III herda a ideia imperial de Akkad     

  • Monarquia marcadamente centralista

  • Aprofundamento da organização política e administrativa do império. Dois funcionários importantes a nível local: a) o ensi é o funcionário administrativo e a autoridade judicial mais importante da cidade. Depende fortemente do poder central. A sucessão dentro da mesma família é rara, como é rara também a concentração de poderes, o que é sintomático de um estado forte e centralizado. b) o šakin (shagin) era a autoridade militar. Por vezes, não se distinguem claramente as competências de um e de outro.

  • Tinham a função de arrecadar impostos, exercer a justiça, dirigir trabalhos agrícolas e empreendimentos públicos como a construção ou reparação de canais.

  • Uma das linhas essenciais da política externa: abertura das rotas e a sua protecção (matérias-primas vitais). Também a prevenção contra os Gútios. Outra preocupação era a infiltração dos Amorritas na Mesopotâmia do norte, desde o final da dinastia de Akkad.

  • Outra linha importante foi a diplomacia com o recurso à política de casamentos.

  • É difícil determinar as dimensões do reino até porque o título de ensi é ambíguo, podendo designar o funcionário real ou o príncipe estrangeiro. Incluía a planície babilónica, o sudeste da Mesopotâmia (Sumer e Elam); Eufrates médio em redor de Mari e o Tigre médio em torno de Ashur. Ur inclui assim os territórios semitizados.

  • Os centros principais: Ur era a sede do poder; Uruk continuava a ser uma referência importante; Nippur era um centro religioso. Nippur era governada por um ensi, com tendência para se tornar hereditário. Por outro lado gozava de certas prerrogativas fiscais.

 

Consulte os mapas e as cronologias disponíveis nos recursos

 

O fim de Ur III e os novos

equilíbrios que se sucedem

  • Ur III acaba por desaparecer como resultado das pressões que se registavam em várias frentes sobre o império: a ocidente, os Amorritas; a oriente, o Elam e a nordeste, os povos dos Zagros. Desta conjunção de frentes resultará a queda de Ur III cerca de 2005 a.C.

  • Os Amorritas estão na origem da formação de várias dinastias que chegam ao poder, a partir desta altura, em várias cidades e reinos da Mesopotâmia. São os casos de Mari, da Assíria e da Babilónia. São nómadas oriundos do deserto que se sentem atraídos pelas regiões habitadas pelos sedentários. Penetram em regiões como a Síria, a Palestina, a Transjordânia e a Mesopotâmia. A sua penetração começa ainda no período de Akkad (séc. XXIII). Sucedem-se sobretudo as infiltrações pacíficas que vão alterando as características étnicas da população mesopotâmica. Nova investida no final do período de Ur que irá contribuir para a emergência de novas dinastias. Estas beneficiam também da desorganização política que se segue ao fim de Ur III.

 

O período de Isin-Larsa:

o novo equilíbrio geo-político

  • Depois da queda de Ur III, sucede um período marcado pelo equilíbrio político entre as cidades de Isin e de Larsa que disputam a hegemonia ao longo dos sécs. XX e XIX. A Babilónia era, entretanto, uma região submetida, governada por um ensi.

  • a partir do reinado de Lipit-Ishtar (1934-1924), acentua-se a decadência de Isin e vai aumentando o poder de Larsa. Cerca de 1930, alargamento do território de Diyala até Elam. Cerca de 1925, apodera-se de Ur e torna-se rei de Sumer e de Akkad. A posse de Ur era importante devido ao seu prestígio e ao controlo do comércio de Dilmun. Assim o comércio do Golfo começa a afluir a Larsa. Só que agora havia também um poder económico privado e já não apenas o estado. Este continuava a desempenhar um papel importante no desenvolvimento agrícola, por exemplo na manutenção de canais.

 

Situação comum a Isin e a Larsa

  • abandono progressivo das estruturas estatais que já vinham de Ur. É o caso do comércio. Evolução em Isin para a propriedade privada. É um passo para a secularização da propriedade eclesiástica. O fenómeno afectou também a propriedade real.

  • A Babilónia ocupa um papel cada vez mais activo. No tempo de Ur III, era administrada por um ensi mas a partir de 1894 torna-se independente.

  • O Egipto tinha nesta altura uma grande influência sobre a Palestina e a Síria. As relações eram mais intensas com as cidades costeiras (ex. de Biblos). A partir de 1880, as cidades palestinenses começam a amuralhar-se. No Egipto, assiste-se ao início de um período de agitação interna. Também infiltrações asiáticas que prenunciam as invasões hicsas. Cerca de 1800, a influência egípcia na Ásia degrada-se. 

 

A situação política entre os fins do séc. XIX e a primeira metade do séc. XVIII a.C.

  • A Babilónia tornara-se um estado independente a partir de 1894 a.C.

  • O Elam liberta-se novamente.

  • A Assíria é uma potência importante na Alta Mesopotâmia, desenvolvendo relações comerciais intensas com a Capadócia (região da actual Turquia), beneficiando estrategicamente da existência de pequenos estados da Ásia Menor que sistematicamente se hostilizavam e que reconheciam a suserania assíria. No entanto, esta prosperidade assíria é interrompida por mudanças políticas entretanto registadas na Ásia Menor (cerca de 1830 a.C.).

  • A partir de cerca de 1814 a.C., Samsi-Addu, de origem amorrita, chega ao trono assírio, o que coincide também com um período de complicadas alianças estratégicas entre as diversas potências mesopotâmicas. A Babilónia aproveita os conflitos entre os outros estados como Ešnunna, Alepo (na Síria), a Assíria e Mari e progressivamente acabará por se impor como a potência dominante na Mesopotâmia, com Hammurabi (1792-1750 a.C.), submetendo os seus adversários.

 

02-11-06

 

A situação política na segunda metade do II milénio a.C.

  • A hegemonia política e militar sobre a Mesopotâmia e sobre a Siro-Palestina é disputada, neste período, por a Assíria e por a Babilónia, mas também por novas potências como o Mitanni e o Hatti. Entretanto, também o Egipto (no Império Novo, sobretudo entre as XVIII e XX dinastias) intervém na Ásia ocidental, até ao Eufrates, disputando a hegemonia sobre a Síria e sobre a Palestina.

  • Em 1595 a.C., a Babilónia foi derrotada pelo Hititas, facilitando, deste modo, a ascensão de uma dinastia de origem cassita, proveniente dos montes Zagros, a leste.

  • O Mitanni é um estado composto por população hurrita, mas onde lidera uma aristocracia indo-ariana. No séc. XVI a.C., o Mitanni consegue impor-se a uma série de pequenos estados do norte da Mesopotâmia. Entretanto, inicia uma expansão para o norte da Síria, beneficiando da instabilidade local. O Hatti está em decadência. No séc. XV, o Mitanni é uma das maiores potências. A sua hegemonia e/ou a sua influência estendem-se desde a Síria e Palestina até à Assíria, possivelmente submetida ao Mitanni, neste período. O seu período de maior influência e domínio corresponde ao enfraquecimento que se verifica no Egipto durante o reinado de Hatshepsut. No entanto, com Tutmósis III, seu sucessor, o Egipto recupera antigas posições na Ásia ocidental e expande a sua influência. A Assíria, interessada no enfraquecimento do Mitanni, aproxima-se do Egipto. Após 1440 a.C., o Egipto e o Mitanni procuram o equilíbrio político, temendo a recuperação que o Hatti entretanto registava. Exemplo desta aproximação estratégica é o casamento de Tutmósis IV com a princesa mitânia, filha de Artatama I.

  • O Mitanni atravessava irremediavelmente um processo de decadência devido às pressões externas (Egipto, Hatti e Assíria), mas também devido a querelas dinásticas internas. O Egipto era agora a principal potência, exercendo forte domínio e grande influência na Síria e na Palestina.

  • A partir de 1430 a.C., beneficiando da decadência do Mitanni, o Hatti começa a impor-se na Síria. Os arquivos egípcios de Amarna dão a conhecer a correspondência enviada pelos príncipes sírios e palestinenses, onde estes se amostram preocupados com a pressão hitita e com os conflitos regionais que revelam a fraqueza egípcia neste período. Pedem socorro ao suserano egípcio.

  • O reinado de Amenófis IV (1379-1362 a.C.), bem como os seguintes, correspondem a um período de enfraquecimento externo do Egipto que descuida a política asiática (veja o texto). O Hatti aproveita e vai-se impondo como potência hegemónica na Síria e na Palestina.

  • Com Ramsés II (XIX dinastia), o Egipto recupera algumas posições na Ásia ocidental, mas para Egípcios e para Hititas avizinhava-se uma ameaça comum - os povos do mar. Egipto e Hatti aproximam-se e estabelecem um acordo que assenta em objectivos comuns que têm a ver com a não agressão mútua, com a defesa comum, com o apoio em caso de revoltas internas, com a extradição, com o policiamento de fronteiras (veja o texto).

  • Os povos do mar vêm provocar uma grande instabilidade no Próximo Oriente, a que não escapam o Egipto e o Hatti. O Hatti deixa-se eclipsar pelas invasões dos povos do mar. O Egipto sai muito enfraquecido destes confrontos e deixa de intervir na Siro-Palestina, de forma permanente, durante muito tempo. A leste, a Assíria e a Babilónia revelam grandes dificuldades devido à expansão arameia que parece repetir o fenómeno amorrita ocorrido muitos séculos antes.

  • Esta instabilidade geral e a incapacidade de exercer a hegemonia, por parte de qualquer uma das potências tradicionais, explicam, em grande medida, o aparecimento e sobrevivência política de pequenas cidades fenícias; explica também o aparecimento dos estados transjordanos; justifica a existência dos pequenos reinos filisteus; finalmente ajuda a perceber o aparecimento de Israel em Canaã e o seu estabelecimento como uma potência média durante os reinados de David e de Salomão.

 

O I milénio a.C.: a Assíria e a Babilónia  

  • A partir do séc. X a.C., a Assíria inicia um processo de restauração nacional. O primeiro impulsionador deste processo foi Aššur-dan II.

  • A guerra torna-se uma decisiva fonte de recursos (em matérias-primas e em mão-de-obra) para a Assíria, que consolida o exército.

  • Aššur-dan II assegura o controlo sobre importantes rotas de comércio a norte e a leste do país.

  • O sucessor, Adad-nirari II, consegue impor derrotas aos Arameus e expande os territórios controlados pela Assíria. Nesta fase, a Assíria e a Babilónia atravessam um período de paz.

  • Aššur-nasir-pal II leva a cabo campanhas militares na Síria, nas montanhas do Líbano, chegando ao Mediterrâneo. A guerra intensifica-se. O objectivo das campanhas militares, que os Assírios levavam a cabo todos os anos, traduzia-se, no essencial, em recolher os tributos e não em ocupar permanentemente os territórios por onde passavam.

  • Na segunda metade do séc. IX a.C., a Assíria procura, com Salmanasar III, dominar a Síria e a Palestina, mas depara com a forte e organizada resistência das cidades fenícias. As facilidades não são tão grandes como no reinado anterior.

  • Entre 827 e 745 a.C., a Assíria atravessará uma grave crise interna, possivelmente provocada por descontentamento e reivindicações da antiga aristocracia contra a nova aristocracia, a elite de governadores dos novos territórios. Estes eram mais extensos e originavam mais riqueza, mais prestígio e mais poder político.

  • Consequentemente, a Assíria perde alguns dos territórios que havia conquistado a ocidente do Eufrates e os reinos sírios deixam de pagar os tributos a que estavam obrigados. A Babilónia aproveita o momento para intervir na Assíria, embora sem sucesso.

  • O período de maior apogeu para a Assíria inicia-se com Tiglat-Falasar III. Entre 743 e 738 a.C., vence a coligação siro-urartiana e os dinastas arameus. Em 734 a.C., conquista Damasco e controla a Palestina. Israel (o reino com capital em Samaria) é dominado em 732 a.C.

  • Forma-se uma coligação siro-efraimita, de que fala Isaías (7,4-9 e 2 Rs. 16,5). A coligação havia sido formada em 735 a.C. com o rei de Damasco (2 Rs.15, 27-29). Judá aceita a submissão à Assíria e não embarca nesta aventura.

  • A Babilónia é finalmente integrada no império em 729 a.C. Em 727 a.C., Tiglat-Falasar III faz-se entronizar rei da Babilónia, o que não deixa de traduzir uma sensibilidade diferente para com este país e um respeito pela sua cultura e pela sua religião. O rei torna-se o senhor de uma monarquia dualista.

  • A guerra assíria torna-se doravante uma guerra de conquista e de ocupação. Os territórios conquistados tornam-se províncias e são integrados no império.

  • A prática das deportações tornou-se corrente e conduziu à arameização do império, contribuindo para a sua homogeneização.

  • Nos reinados seguintes, prosseguiu a mesma política expansionista. O reino de Israel foi conquistado em 722 a.C., tendo sido deportado um grupo considerável da sua população (cf. Rs. 17,6 e 18,11).

  • Em 714 a.C., Sargão II dominou os Zagros e o Urartu.

  • As revoltas na Síria e na Palestina eram constantes e era para aí que estavam agora voltadas as atenções da Assíria. Judá, que antes recusara entrar na coligação anti-assíria (2 Rs. 18), dava agora esse passo e a reacção não se fez esperar (2 Rs. 18, 14).

  • O Egipto foi finalmente dominado pela Assíria em 671 a.C. por Assaradão, mas por pouco tempo. A dinastia saíta restaurará a independência.

  • Os problemas mais graves começam na segunda metade do séc. VII a.C. O Egipto recuperara a independência e começa a interessar-se pela política asiática. Os vários reinos da Síria e da Palestina começam a coligar-se e a revoltar-se. A Babilónia recupera a sua independência em 626 a.C. O Elam é outra frente de pressão, neste caso a leste.

  • A Assíria acaba por desaparecer em 609 a.C., vendo o seu império ser dividido entre os Neo-babilónios, que ficam com os territórios a ocidente, e os Medos que se apoderam dos territórios orientais.

 

 

07-11-06

 

 

09-11-06

 

 

14-11-06

 

  • Veja a apresentação sobre as linhas de força da política externa no Império Novo.

 

16-11-06

 

  • Veja a apresentação sobre o III Período Intermédio e sobre a Época Saíta.

  • Sobre a unificação do Egipto, veja a apresentação relativa ao Período pré-dinástico.

 

21-11-06

 

 

23-11-06

 

  • No Egipto, o rei é o senhor de todo o país, das suas terras e da sua gente. 

  • Mas, obviamente, esta era apenas a ideologia real, isto é, a concepção oficial de poder real. Na realidade, as elites constituíam grupos de pressão que condicionavam o exercício do poder faraónico.

  • Entres esses grupos, devemos incluir as elites militares, os grupos sacerdotais, as elites político-administrativas, mas também a própria família real.

Indicações sobre os trabalhos

  • A entrega do 1º trabalho deverá decorrer impreterivelmente até 14 de Dezembro. Caso não seja entregue até esta data, o atraso implicará uma penalização na classificação.
  • A entrega do 2º trabalho deverá decorrer impreterivelmente até 4 de Janeiro. Caso não seja entregue até esta data, o atraso implicará uma penalização na classificação.
  • Os trabalhos deverão ser entregues em papel e deverão  também ser enviados por correio electrónico para: F.Caramelo@netcabo.pt
  • O grupo que apresenta e o grupo que comenta ficarão assim a conhecer os respectivos trabalhos.
  • Todos os alunos deverão intervir na apresentação ou comentário do respectivo trabalho.
  • O docente estará disponível no dia 15 de Dezembro para prestar esclarecimentos e aconselhamento relativamente à apresentação dos trabalhos; os alunos devem, todavia, fazer previamente a marcação de reuniões.
  • As reuniões de orientação dos segundos trabalhos decorrerão apenas até 15 de Dezembro. 

 

28-11-06

 

  • A realeza faraónica é caracterizada por uma dimensão ritual que configura o estatuto divino e sagrado da realeza faraónica.

  • A realeza sagrada sintetiza a unidade do Egipto e a sintonia com o divino.

  • O protocolo real e a ideologia real faziam do Faraó um deus vivo - um Hórus vivo.

  • A partir da V Dinastia, o culto e a teologia de Ré conquistam uma dimensão mais universal.

  • Ré torna-se uma divindade profundamente associada à dinastia.

  • O Faraó torna-se «filho de Ré». Torna-se herdeiro do demiurgo.

  • A filiação divina não diminui ontologicamente o Faraó. Este não deixa de ser um Hórus mas conquista novos atributos que reforçam a sua divindade.  

 

30-11-06

 

  • A filiação divina não impede que, a partir do I Período Intermédio, se comece a desenvolver a noção de que o exercício do poder real é algo que também se aprende e que tem uma dimensão política. O Ensinamento para o rei Merikaré ilustra essa nova perspectiva.

  • O Faraó está condicionado pela maat, da qual até os deuses se alimentam.

  • Esta noção não é, no entanto, incompatível com a dimensão divina da realeza. Esta continuava a ser necessária para justificar e legitimar a instituição real.

  • Havia uma relação metafísica entre o Faraó e a ordem do mundo. Competia-lhe garantir a prosperidade e a acção benfazeja da natureza. Esperava-se que o rei conservasse a ordem e perpetuasse a criação.

  • Esta construção ideológica ir-se-á adaptando às novas condições políticas de cada época.

  • No final do Império Novo, esta relação entre o Faraó e a ordem do mundo extrema-se. O próprio rei será julgado pelo cumprimento da maat e o seu comportamento terá reflexos sobre o mundo.

  • A imagem do faraó e o protocolo real traduziam essa concepção do poder real e especialmente o seu carácter divino.

  • A titulatura do Faraó reflectia a complexa construção ideológica que caracterizava a instituição real:

- Hórus

- As duas senhoras (senhor das duas coroas)

- Hórus de ouro

- Rei do Alto e do Baixo Egipto (da Cana e da Abelha)

- Filho de Ré

  • A indumentária real contribuía obviamente para essa construção, tornando-o distinto de todos os seus súbditos. A barba postiça, o cabelo envolto e os seus toucados, as suas diversas coroas, a coroa dupla, o uraeus.

  • O cerimonial da corte e as aparições do Faraó deveriam ser cuidadosamente preparadas e encenadas, pois era fundamental transmitir a convicção de que se tratava de um deus.

  • O Faraó desempenhava um papel central em alguns ritos ligados à realeza. Estes ritos confirmavam o carácter divino da realeza. São exemplos festivais religiosos como Min, o qual acentuava a relação próxima entre o Faraó, a agricultura e a fertilidade dos campos. O rei é representado sacrificando a Min ou cavando a terra, visitando as estruturas de irrigação; também o festival Sed estava associado à ordem do mundo. Teoricamente, celebrava-se ao fim de trinta anos de reinado, significando o rejuvenescimento do rei, mas é provável que, frequentemente, tenha sido comemorado antes.

  • A par destes festivais religiosos, existiam ritos quotidianos que assinalavam a perpetuidade da realeza.      

 

05-12-06

 

Origens do Estado e a sua organização

A emergência do Estado: da cidade-estado às formações

políticas  mais complexas

  • Ao longo da história da Mesopotâmia, persiste a tensão entre duas lógicas: uma lógica urbana e uma lógica supra-urbana. A primeira favorece os particularismos; a segunda impele para a formação de complexos políticos, para a agregação territorial. Estas duas lógicas coexistem e são estruturantes na história política da Mesopotâmia.

  • Não se deve, por conseguinte, observar a formação dos reinos mesopotâmicos, como são exemplos Akkad, Ur III, a Babilónia, entre outros, como o resultado de uma evolução ou de uma tendência irreversível. Na verdade, observam-se fenómenos de composição e de decomposição territorial e política.

  • É certo, todavia, que o Estado, enquanto conceito e enquanto organização, acompanhou a evolução do processo político. Por conseguinte, a formação de Akkad e a unificação da Mesopotâmia traduziram-se necessariamente num Estado mais complexo.

  • Akkad e Ur III fornecem exemplos de organização político-administrativa que são estruturantes na Mesopotâmia.

  • Durante Ur III, os altos cargos da burocracia tornaram-se certamente hereditários. A família real ocupou indubitavelmente um papel de destaque na administração. Ocupou lugares de relevo não apenas na administração do estado como também no plano religioso e no plano militar. Muitos dos governadores civis provinciais vinham de famílias locais mas as autoridades militares eram com frequência oriundas da família real.

  • As cidades de Ur e de Uruk não faziam parte da estrutura administrativa provincial normal. Eram muito provavelmente administradas directamente por membros da família real.

  • Para além da família real haveria algumas famílias de grande prestígio que terão tido papel de destaque na administração. Em Ur III, é o caso da família de Arad-Nanna. Durante gerações desempenharam o lugar de sukkal-mah que era responsável pela administração dos territórios conquistados a este e a nordeste. Quando o Elam recuperou a independência, os chefes locais tomaram o título de sukkal-mah.

  • Relativamente aos escalões mais baixos ou intermédios da estrutura administrativa, a substituição seria muito menor. Não era pelo facto de uma nova dinastia chegar ao poder que essas camadas da administração mudavam, ao contrário do que se passava com as elites. Não seria comportável fazê-lo.

  • Em Ur III, o dub-sar (escriba) era a base de toda a administração e o termo que generalizava o burocrata de escalões inferiores e intermédios.

  • Isso não significa que o nível de literacia fosse elevado e generalizado a toda a administração. É provável que houvesse funcionários que não soubessem escrever e que dependiam dos escribas para esse efeito.

  • De qualquer forma a base da administração, essa passava toda pela eduba (escola).

  • É curioso verificar que os textos literários eram a base da preparação e da aprendizagem do escriba. O curriculum pouco tinha a ver com operações de cariz administrativo. Talvez isso se ficasse a dever ao facto de estes textos apresentarem um índice de dificuldade bastante elevado e por conseguinte corresponderem a um nível de exigência que traduzia a elevada preparação do escriba quer em termos de domínio do sistema da escrita quer em termos de domínio lexical.

  • A par desta preparação técnica, a escola fornecia modelos ideológicos de sociabilização.

  • Para os sargónidas, a base do poder assentava sobretudo na autoridade militar, legitimada pelos deuses. Os reis gostavam de se fazer representar nas inscrições e na iconografia como comandantes do exército.

  • A autoridade militar a seguir ao rei era o šagina, provavelmente um soldado profissional, sob cujo comando estava o exército permanente e o abastecimento deste a partir das cidades e terras sob a autoridade real.

  • Quando o exército e todos os que o acompanhavam passavam por uma cidade era o ensi o responsável pelo seu abastecimento. Este era uma espécie de governador civil.

  • O nu-bànda era uma espécie de capitão, também um soldado profissional que servia o ensi.

  • O exército era acompanhado por escribas militares e por contabilistas.

  • No que diz respeito ao domínio real, o šabra-é era o administrador da sua propriedade. Incluía funcionários reais ao seu serviço. Entre estes contavam-se o sag-sug, que registava as terras, o dubsar lugal, o escriba real, o maškim lugal, inspector real. Alguns destes altos funcionários, como o ensi e o šabra-é, recebiam terras do rei. Eram as terras que o rei adquiria na conquista e na expropriação.

  • A concessão ou o arrendamento de terras por parte da Coroa representava uma fonte de receitas para o Estado através da tributação.

  • Em Akkad e em Ur III, assiste-se a uma grande centralização, uniformização da administração.

 

07-12-06

 

Não existe, na Mesopotâmia, uma teoria política sobre o Estado ou sobre a instituição real e a sua dimensão ideológica. Essa percepção chega até nós através da poesia, das inscrições, dos anais e de outro tipo de textos, designadamente de carácter profético e literário. Esses textos, não tendo como objectivo imediato essa teorização, reflectem essas concepções políticas e ideológicas.

Alguns dos mitos mesopotâmicos mostram a convicção de que a instituição real constitui uma criação divina. Anu e Enlil são designados «reis dos deuses». Existe a ideia de que a realeza desceu, depois, do céu (ver o texto da Lista Real Suméria).

O poema babilónico da criação, o Enuma elish, alude à realeza divina. Anu presidia à assembleia divina. O Enuma elish reflecte o pensamento político mesopotâmico, na medida em que explica a origem do poder real, a sua natureza, a permanência da instituição e a sua legitimidade, mas também a sua dinâmica e a sua fluidez. A instituição permanece mas a legitimidade de quem a interpreta depende do divino. Esse postulado é também explicado e testemunhado pelo Enuma elish. No conflito geracional que opõe os deuses, Marduk, a divindade tutelar da Babilónia, aceita o papel de campeão dos deuses mais jovens no combate contra Tiamat em troca da realeza divina. A realeza de Marduk resulta de um consenso na assembleia divina; deriva também de uma situação de instabilidade. O relato talvez constitua a consciência histórica da origem da realeza humana e a tensão entre uma lógica de permanência e uma lógica de impermanência do poder.

Também a Epopeia de Gilgamesh mostra que existe uma concepção de ética política ligada ao poder real. Gilgamesh era um rei de Uruk, prepotente e arrogante. Os deuses criaram Enkidu, como um duplo, destinado a controlar Gilgamesh. Este, em diálogo e interacção constante com o divino, ao longo da viagem e da narrativa, muda a sua atitude e transforma-se num rei justo, de acordo com aquilo que os deuses esperavam dele.  

A realeza humana e terrena tem, por conseguinte, a sua origem na realeza divina. A divindade tutelar continuará a ser o verdadeiro rei e também o modelo a imitar pelo rei terreno. A existência de um modelo divino impõe limites à realeza humana.

Um dos postulados fundamentais em que assenta a legitimidade da realeza humana é o princípio da eleição /  escolha. O rei deve o seu poder ao facto de ter sido nomeado por deus, mandatado para o exercício de uma missão que a divindade delega nele. O rei é escolhido pela divindade para levar a cabo uma missão ordenadora e salvífica. A escolha parece envolver duas etapas: a predestinação e o mandato / chamamento. As referências à predestinação reflectem a ideia de que foi escolhido para essa missão mas que ainda não foi chamado.  

O princípio da escolha parece, aos nossos olhos, contraditório com o princípio da justificação linhagística. Na verdade, se o direito à sucessão está justificado pela filiação então isso dispensaria a legitimação divina. Na realidade, um princípio não excluía o outro. Em caso de perturbação política, de instabilidade ou de ruptura dinástica, o princípio da escolha divina tornava-se mais activo. Ainda assim, ele nunca deixava de estar presente em todo o processo de sucessão.  

A realeza começa por estar associada fundamentalmente a uma cidade, isto no plano ideológico. Na lista real suméria, transmite-se a ideia de que o poder real, tendo uma origem divina, é transferido de cidade em cidade por decreto divino e por decisão da assembleia dos deuses. Os conflitos entre as cidades são, por vezes, interpretados como conflitos entre as divindades urbanas. Os reis terrenos são instrumentos dos decretos divinos. É, porventura, a consciência histórica da sucessão de hegemonias das cidades-estado mesopotâmicas.

Análise do texto AEM 196 (Tradução de Francisco Caramelo: A Linguagem Profética na Mesopotâmia (Mari e Assíria), Cascais, Patrimonia, 2002). O texto ilustra, provavelmente através de um sonho ou de uma visão, o processo através do qual Dagan, em assembleia divina, determina o fim de Ešnunna, reflectindo a consciência histórica acerca dos eventos políticos e militares que estavam a ser vividos.

Análise do texto A. 1121 + A.2731 (Tradução de Francisco Caramelo: A Linguagem Profética na Mesopotâmia (Mari e Assíria), Cascais, Patrimonia, 2002). Torna-se claro que Addu reclama a sua importância na atribuição da realeza e do trono a Zimri-Lim.   

 

A bibliografia e as notas de rodapé do trabalho a apresentar devem obedecer a normas adequadas. Para isso, sugiro que siga as seguintes normas, sobretudo a partir da página 12.

 

 

  • Verifique aqui a ordem de apresentação dos trabalhos relativos ao Egipto.

 

12-12-06

 

Uma das linhas de legitimação ideológica em que assenta a realeza é a que transforma o rei no filho de deus, não no filho gerado pela divindade mas no escolhido, no eleito, no seu favorito. Pode consultar os oráculos proféticos neo-assírios (cf. Caramelo, Francisco, A Linguagem Profética na Mesopotâmia (Mari e Assíria), Cascais, Patrimonia, 2002) em que o apoio divino, sobretudo de Ištar, se manifesta através da filiação divina, mas também através de referências ao casamento sagrado. As fontes escritas, mas também a iconografia, designadamente os selos-cilindros, reflectem estas linhas da retórica verbal e visual. A deusa Ištar é representada como mãe, como figura com atributos guerreiros e até masculinos, por vezes, e com atributos que exaltam a sua feminilidade.

 

  • Leia este texto de Henry Frankfort.

 

14-12-06

 

A sucessão não foi um processo pacífico ou rotineiro na Mesopotâmia. A escolha do sucessor era, com frequência, envolta em polémica. Nem sempre era o primogénito o escolhido para suceder. Exemplo disso é a sucessão de Senaquerib; Assaradão era um dos príncipes mais novos. De certa forma, esta incerteza dava razão ao princípio de que eram os deuses que escolhiam o rei para governar o mundo em seu nome.

Havia a consciência de que o processo de sucessão era por natureza conturbado. Os tratados de sucessão consistiam em ajuramentar as elites do país, levando-as a aceitar o príncipe herdeiro e a jurar-lhe fidelidade.   

O exercício da realeza tinha as suas limitações políticas e ideológicas, mau grado o apoio divino. Eram os próprios deuses que limitavam o poder real. Os desaires são sempre interpretados como resultado de transgressão ou desvio das prescrições divinas.

 

04-01-07

 

Sociedade no Egipto

Duas visões diferentes: a visão grega e a Sátira dos Ofícios. Ambas se mostram afastadas do que seria a realidade social no Egipto antigo. Também o Êxodo, livro bíblico, transmite uma imagem sobre o trabalho escravo que não corresponde à realidade. Em todos estes casos, estamos perante visões distorcidas e idealizadas sobre a sociedade no Egipto. Nenhum dos textos produz uma visão objectiva.

 

Artesãos

A Sátira dos Ofícios dá a artesãos e a camponeses o mesmo destino miserável. Devemos, todavia, ter a consciência de que este texto é produzido com a finalidade de louvar o escriba. É um texto encomiástico que ao mesmo tempo que faz o elogio da profissão do escriba procura denegrir todas as outras ocupações e categorias sociais.

Entre os artesãos, devemos distinguir os que pertenciam às camadas mais baixas da sociedade e aqueles a quem as elites faziam as suas encomendas.

 

Camponeses

Constituíam a enorme massa da população do Egipto. Estavam, grande parte deles, dependentes dos campos do Faraó e dos templos. Contrastam duas visões idealizadas: as representações bucólicas reproduzidas nas paredes das tumbas que encenam um quadro ideal da vida no além. Corresponde à visão das elites, consistindo pois numa visão irrealista. Pelo contrário, a Sátira dos Ofícios traça um quadro de miséria quando alude aos camponeses e à vida que levam

Havia certamente diversas categorias de camponeses, desde os jornaleiros, aos rendeiros, passando pelos colonos hereditários, que trabalhavam nos domínios do Estado.

 

Soldados

Sobretudo na Época Baixa, o Egipto terá contado com um grande número de mercenários. O rei cedia a cada um e à sua família uma parcela de terra para o seu sustento que explorava directamente ou encarregava jornaleiros de o fazer. O usufruto dessa terra, não a sua posse, dependia da continuidade do serviço militar a prestar ao rei. Isto favoreceu a fixação e a assimilação rápida dos estrangeiros, mercenários, estabelecidos no Egipto.

A Sátira dos Ofícios exacerbou a dureza da vida do soldado, realçando os aspectos negativos associados à profissão.

 

Sacerdotes

Tinham uma formação e uma preparação intelectual de nível superior. Começavam essa formação nas escolas ligadas ao palácio ou ao templo. A aprendizagem da escrita era a base dessa formação. Só depois se verificava a especialização: ocupação sacerdotal ou administrativa.

 

Escribas

É a profissão ideal na visão da Sátira dos Ofícios. O escriba levava a cabo a sua aprendizagem nas chamadas casas da vida, ligadas aos templos ou aos palácios. Aprendia a ler, a transcrever os hieróglifos, copiava textos antigos, exercitando em diversos materiais de suporte. Aprendia várias matérias como a geografia, a matemática, a anatomia e outras. Desempenhava diversas funções como a cobrança de impostos, contabilidade, registos burocráticos, etc.

 

Escravos

É no Império Novo que o seu número aumenta mais significativamente como resultado da expansão militar. Uma grande parte ficava no domínio do rei e ao seu serviço: servos no palácio, camponeses na terras do rei ou trabalhando nas minas e nas pedreiras. Outros eram recrutados como soldados. Outros, ainda, eram usados como intérpretes e faziam carreira administrativa.

A partir da Época Saíta, surge uma escravatura por insolvência.

 

09-01-07

 

A sociedade na Mesopotâmia

Estratificação social. A estratificação social no Código de Hammurabi. Também os documentos de carácter económico e jurídico permitem caracterizar a sociedade mesopotâmica. O critério económico na diferenciação social dos homens livres. O awīlum e o muškēnum.

O estatuto do escravo. As diferentes origens: prisioneiros de guerra, insolvência, adopção, condenação, origem familiar.

As diferentes condições dos escravos: os particulares e os que eram propriedade do templo ou do palácio.

A condição de vida do escravo. A especificidade do estatuto de escravo na Mesopotâmia. A protecção social e os direitos. 

 

  • Família

Monogamia e poligamia. Concubinato.

O estatuto da mulher legítima.

O casamento. O terhatum, sheriktum ou nudunnum: significado social. O biblum. Passagens no Código de Hammurabi: arts. 27, 128, 144, 146, 147, 175, 176, 170, 171. A dissolução do casamento: 138, 139, 141, 142, 143, 28, 131, 132.

Apresentação e discussão de dois trabalhos sobre a família e sobre a herança na Mesopotâmia.

 

O tema foi desenvolvido pelos trabalhos apresentados pelos alunos.

 

11-01-07

 

O mundo urbano e sedentário vs. o mundo nómada. O nomadismo no Médio Oriente antigo. Revisão do nomadismo. Mundo nómada e mundo sedentário não viviam necessariamente uma lógica de hostilidade. Pelo contrário, a documentação, designadamente os Arquivos Reais de Mari, registou a colaboração e a complementaridade entre ambos. Torna-se, pois, necessário rever o conceito de nomadismo que nos chega do séc. XIX.

A configuração geográfica da Mesopotâmia não oferece barreiras intransponíveis que separem os nómadas dos sedentários. O clima e a precipitação determinam, no entanto, diferentes tipos de ocupação e um modus vivendi distinto. As regiões dos vales fluviais, onde a precipitação é também maior, correspondem às terras aráveis; a agricultura é a principal actividade humana, registam-se aglomerações populacionais e concentrações urbanas. As zonas das estepes, entre as regiões desérticas e as regiões férteis, são as áreas em que circulam as populações nómadas, essencialmente dedicadas à pastorícia.

Apesar de se verificarem também conflitos entre a população urbana e sedentária e a população nómada, o mais natural é a colaboração entre as duas realidades, que correspondem a duas morfologias sociais, complementares também no plano económico. Mais do que uma dicotomia entre sedentários e nómadas, assiste-se a uma diferenciação entre mundo rural e mundo urbano.

Um outro conceito a introduzir é o do nomadismo sazonal. Registava-se a circulação de certas populações entre as cidades e as regiões estépicas. Este fenómeno implica relações económicas e sociais frequentes entre os dois mundos. É o caso das relações comerciais, assim como do recrutamento de nómadas para o exército sedentário.                              

Esta observação da realidade social e económica do mundo mesopotâmico levou a que se começasse a falar de um outro conceito importante: o dimorfismo social. Trata-se de um conceito que tem, no essencial, como pano de fundo o quadro social do reino de Mari no período babilónico antigo. Mari é um reino que se enquadra na matriz cultural e política acádica, mas, por outro lado, tem uma forte componente nómada que coexiste com aquela.  O rei de Mari, um estado dimorfo, assume essa matriz política e ideológica acádica mas não renega as suas origens bensimalitas.

 

16-01-07

 

Esferas da actividade económica e social na Mesopotâmia

O Templo: A cidade não é apenas o resultado de pressões demográficas. É também o cenário de relações comerciais internas e externas. Mari é o exemplo de uma cidade de uma cidade cuja importância se fica a dever à sua localização estratégica, no centro de uma das rotas comerciais mais importantes.

O Templo desempenhou um papel importante no comércio. O Templo dinamizou as actividades económicas: têxteis, olaria, metalurgia são exemplos. Tinha os seus próprios armazéns e oficinas. O Templo era também proprietário de terra e de animais; a agricultura era uma das principais actividades económicas. Explorava as terras directamente e, noutros casos, arrendava-as.

Como unidade económico-social decisiva, o Templo produzia excedentes que alimentaram o comércio e que lhe conferiram um papel importante nesse domínio.

A especialização e a divisão social do trabalho ocorreram no contexto urbano e inicialmente impulsionadas pelo Templo. Mais tarde, sobretudo a partir do Dinástico Antigo, assistir-se-á  a um fenómeno de secularização que conferirá lugar de destaque também ao Palácio e à oikos.

O Templo deteve um papel importante no comércio a longa distância. O tamkarum operava as iniciativas comerciais em nome do Templo. Estas consistiam na aquisição de matérias-primas como metais e pedra. Em troca, fornecia mercadorias manufacturadas nas suas oficinas.  

O Palácio: Jean-Claude Margueron («Apparition du Palais au Proche-Orient», in E. Lévy (ed.), Le Système Palatial en Orient, en Grèce et à Rome, Strasbourg, E.J. Brill, 1987, p.10) defende que o Palácio é «um sistema caracterizado por uma estreita imbricação do poder económico e do poder político, que faz intervir uma burocracia frequentemente poderosa e de tendência centralista.»

A exploração agrícola, a extensa propriedade fundiária, a gestão do sistema de irrigação conduziram à centralização do poder, desempenhando o Palácio, a partir do período dinástico, um papel central.

De acordo com Margueron (pp.11-15), a evolução do EN para o sistema monárquico, tendo como expressão arquitectónica a emergência do Palácio como estrutura nova, é apenas uma hipótese, apesar de constituir comummente a explicação tradicional.

A relação entre o poder do EN e o Templo, como sede do poder político e religioso no período pré-dinástico, tende hoje a ser discutida. É o próprio valor semântico de EN e de LUGAL que é discutido. Põe-se a hipótese de o LUGAL não ser o resultado de uma evolução política e funcional mas antes um título, originalmente de raiz urbana como o EN, eventualmente coexistindo com outros títulos. A questão seria então basicamente de ordem semântica.

A arqueologia não tem, de forma inequívoca, confirmado a tese tradicional. O Palácio não é necessariamente a expressão arquitectónica da emergência de um poder real e não se deve estabelecer uma relação exclusiva entre uma arquitectura monumental (Margueron) e uma arquitectura real. A verdade é que o Templo teve, no período pré-dinástico, outras funcionalidades que não apenas as de carácter religioso ou ritual e o Palácio, mesmo no período dinástico, designadamente no III milénio a.C., teve, para além da sua função política e administrativa, um complexo e amplo recinto religioso.

Assim, ao longo de todo este período, a chamada arquitectura de prestígio (expressão de Olivier Aurenche) ou arquitectura de poder (expressão de Margueron) reflecte a evolução social, económica e política na Mesopotâmia. Nesta evolução, e de início, o carácter temporal e o carácter religioso e ritual surgem indistintamente nesta arquitectura de poder (sobretudo durante os períodos pré-dinástico e dinástico antigo). Exemplo deste fenómeno é o Palácio de Mari (III milénio a.C.) com o seu recinto sagrado.

O Palácio de Mari, no período babilónico antigo, é um exemplo eloquente da organização da arquitectura de poder nos inícios do II milénio a.C., ilustrando as várias funcionalidades inerentes a uma estrutura deste tipo. Um das zonas mais importantes do Palácio era a «Porta do Palácio». Correspondia a uma secção do Palácio que incluía o chamado bît têrtim e que Durand traduziu por «Casa da Directiva». Era aí que eram despachados os assuntos administrativos e filtrado o acesso ao Palácio.

Nos textos, reflecte-se, com alguma frequência, a distinção entre duas zonas do Palácio: bâbânu, a área ligada à Porta, e bîtânu, a área associada aos aposentos. A primeira zona desempenha sobretudo uma função administrativa e política enquanto que a segunda desempenha uma função claramente privada. Ambas se articulavam com a Corte. Outra zona importante do Palácio era a dos armazéns.

O Palácio desempenha um papel económico muito activo. É produtor, é consumidor, leva a cabo trocas comerciais e regula as actividades económicas. Apesar de ter uma palavra importante no domínio das actividades de transformação (com armazéns e oficinas), a sua intervenção mais activa regista-se na agricultura e na pecuária. Trata-se de uma economia essencialmente agrária.

As fontes de Mari referem essencialmente dois tipos de terras: a reserva era constituída por campos cultivados, em troca de uma espécie de renda anual em géneros e prata. Era o Palácio que fornecia os meios para a exploração dessas terras, assim como a água para a irrigação dos terrenos. O segundo tipo de terras era constituído por parcelas cedidas pelo Palácio em troca da prestação de um serviço, militar ou outro. Era o chamado ilkum.   

Oikos: verificam-se grandes concentrações populacionais nas cidades, sobretudo a partir dos inícios do III milénio a.C. O crescente desenvolvimento urbano teve um impacto óbvio na economia e na sua organização. Corresponde a É em sumério e a bîtum em acádico. Temos as famílias nucleares ou as famílias extensas e alargadas comungando o mesmo espaço vivencial e funcionando como uma unidade económica e social.

Progressivamente, caminha-se para uma economia concorrencial. A economia baseada no Templo compete com a economia baseada nestas unidades de produção. A oikos era estruturada com base não apenas em relações de parentesco mas sim em vínculos sócio-económicos não necessariamente permanentes, dando origem a pequenas comunidades produtivas, sobretudo sazonalmente, como na altura das colheitas.

Deve-se distinguir família de oikos. Esta última constitui uma comunidade que partilha um mesmo espaço doméstico com a finalidade de produzir excedentes. Quanto à família, no período babilónico antigo, esta era patrilinear e patrilocal. Alguns autores defendem que é sobretudo nos inícios do III milénio a.C. que a família alargada tem peso, enquanto que no período babilónico antigo prevaleceria sobretudo a família nuclear. No entanto, o estudo de contratos de venda de terras, no período babilónico antigo, parece demonstrar que durante a transacção estariam presentes os familiares do vendedor, não apenas como testemunhas do acto mas também como beneficiários da venda.

Verifica-se uma tendência para a inalienabilidade da terra. Sobretudo nas comunidades rurais, regista-se uma forte tendência para não dividir a terra e para a cultivar em conjunto. Para evitar a dispersão da propriedade, a qual resultaria da herança equitativa, registaram-se duas soluções: a primeira consistia em privilegiar o primogénito; a segunda consistia em não dividir a herança, tornando a exploração da terra comum e mantendo, assim, a família alargada, estruturada em torno da terra. Nas cidades, há sobretudo a tendência para a dispersão da propriedade.

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Actividades económicas

Agricultura: De início, a prática da agricultura e o seu desenvolvimento tiveram sobretudo lugar no sul da Mesopotâmia. É aí que se desenvolve um complexo sistema de irrigação, constituído por diques e canais, que potencia a agricultura como actividade sedentária.

A agricultura mesopotâmica enfrentou outros problemas para além da escassez da água. Um foi a salinização dos terrenos de cultivo, uma vez que as águas fluviais apresentavam taxas de salinidade relativamente elevadas, problema agravado pela escassez da pluviosidade. O outro foi a frequência das tempestades de areia.

Daqui resultava que as áreas cultiváveis eram limitadas.

Caracterização das principais produções agrícolas.

Análise e comentário do texto conhecido como «Almanaque do agricultor», um texto sumério de cariz sapiencial que apresenta uma série de instruções sobre os trabalhos agrícolas, que o pai deixa ao filho.

Análise e comentário de passagens do Código de Hammurabi relativas às actividades agrícolas: arts. 53 a 65.

Indústrias e actividades de transformação: o desenvolvimento agrícola contribuiu para o desenvolvimento das indústrias, designadamente na produção das alfaias.

As actividades de transformação enfrentaram o problema da escassez de certas matérias-primas: a madeira de qualidade, a pedra e os metais. Foram o incremento de uma agricultura excedentária e a própria guerra os meios que permitiram a aquisição dessas matérias-primas.

As principais actividades de transformação estavam relacionadas com as necessidades do quotidiano do homem mesopotâmico e dependiam de matérias-primas abundantes na Mesopotâmia. Uma delas é a produção de adobe, essencial para a construção e dependente da argila, que abundava. Outra era a olaria, marca civilizacional, e que também dependia da argila.

Nas cidades, duas indústrias tinham um peso importante. Uma usava e transformava os cereais: a produção de pão e a produção de cerveja eram indústrias de grande tradição e fundamentais para o mesopotâmio.  A par destas, os têxteis ocupavam também um lugar decisivo. Eram actividades que dependiam de matérias-primas locais.

A metalurgia era uma das indústrias mais importantes e sofisticadas na Mesopotâmia. Dependia da importação das matérias-primas. O cobre era oriundo da Ásia Menor, da Arménia e do Elam e a sua importação verifica-se a partir do IV milénio a.C. O ferro, nos finais do II milénio a.C., era importado da Ásia Menor, da Arménia, da região do Cáucaso e do planalto iraniano.

Algumas destas indústrias seriam executadas de forma generalizada, pela oikos, pelas oficinas do palácio e pelas do templo; outras requeriam tais níveis de especialização técnica que, possivelmente, estariam reservadas ao palácio e, quando muito, ao templo, até porque, provavelmente, só estes teriam capacidade para importar as matérias-primas.

Comércio: registos da época de Urukagina mostram que já havia trocas comerciais regulares com o Elam, consistindo, sobretudo, na importação de madeiras e de pedra, matérias-primas que rareavam na Mesopotâmia. Paralelamente, inscrições de Gudea informam que a importação de madeira de cedro era realizada a partir do Líbano.

Entretanto, da Ásia Menor eram importados metais, um comércio regular bastante antigo. Em troca, a Mesopotâmia exportava cereais, lã e outros produtos agrícolas, tirando partido da sua agricultura excedentária. Encontraram-se selos cilíndricos em regiões tão distantes da Mesopotâmia como Chipre, Creta, Peloponeso e até o vale do Indo, o que demonstra os horizontes deste comércio. A Mesopotâmia encontrava-se no centro de um importante comércio a longa distância, que remontava a épocas recuadas no tempo.

O desenvolvimento da agricultura, que se tornou excedentária, trouxe riqueza à Mesopotâmia, mas esta tinha falta de outros recursos que não existiam no território e que permitiriam alimentar o gosto e as necessidades, por vezes supérfluas das elites, bem como do Palácio e do Templo. Essas matérias-primas só poderiam ser adquiridas através da guerra ou do comércio. A existência de trocas comerciais a longa distância, desde tempos remotos, reflecte um mundo constituído por regiões que, apesar de longínquas, comunicavam entre si.

Apesar de as vias terrestres serem utilizadas, com o recurso a caravanas (primeiro o burro e a mula e mais tarde o camelo), eram sobretudo os rios as grandes vias de comunicação. O Eufrates transportava o vinho e transportava os metais por exemplo. Um baixo-relevo do Palácio de Sargão II ilustra o modo como eram transportados os troncos de madeira, puxados por barcos fluviais.

Apesar de não existir uma economia baseada na moeda, a prata funcionava como o valor de referência que permitia a realização das trocas e das actividades comerciais. As medidas essenciais eram o talento (biltu), a mina e o siclo. O talento correspondia a 60 minas e a mina a 60 siclos. 

Burocracia e economia tributária.

A importância da burocracia e da dimensão jurídica na regulação das actividades económicas. As diversas tipologias de contratos.

A falsificação e as dúvidas sobre a autenticidade dos documentos são as grandes preocupações destes contratos e a sua razão de ser. O «envelope» destinava-se a salvaguardar a integridade do documento. O «envelope» incluía uma cópia ou um resumo do documento e apresentava também marcas da personalidade dos contratantes, como os selos. Alguns «envelopes» eram anepígrafos. É possível que o recurso ao «envelope» fosse substituído pela produção de cópias do documento.

Outras marcas da personalidade jurídica podiam acompanhar a autentificação do documento: o sissiktum e impressões de unhas.

O contrato continha, para além do texto, certos elementos contextuais e formais: a data, a indicação das testemunhas e as cláusulas de irrevogabilidade. Estas cláusulas destinavam-se a garantir o carácter definitivo do documento, muitas vezes sustentadas por maldições. Os juramentos pelo rei e/ou pelos deuses promoviam a definitividade do contrato. A estas cláusulas associam-se cláusulas penais.

 

  • O teste, a realizar no próximo dia 1 de Fevereiro, será sem consulta e tem um peso de 40% na avaliação final.
  • Nenhum elemento de consulta será permitido.
  • O aluno poderá escrever até um máximo de oito páginas.
  • Recomenda-se novamente a seguinte bibliografia essencial: SANMARTÍN, Joaquín e SERRANO, José Miguel, Historia Antigua del Próximo Oriente. Mesopotamia y Egipto, Madrid, Akal, 2006.
  • Recomenda-se vivamente a leitura de  DONADONI, Sergio (dir.), O Homem Egípcio, Lisboa, Editorial Presença, 1994.
  • O teste será constituído por duas questões, valendo cada uma 10 valores.
  • O enunciado será constituído apenas por duas questões, derivando estas da seguinte lista de eventuais temas:

1. a instituição real na Mesopotâmia

2. a sociedade no Egipto

3. o nomadismo na Mesopotâmia

4. a instituição faraónica 

 

18-01-07

 

Economia no Egipto

Recursos naturais – as terras irrigadas pelo Nilo eram excelentes para a agricultura. O território, sobretudo nas zonas dos desertos e das montanhas, era rico em variedades de pedra e de minerais. As pedreiras, ainda que por vezes distantes, eram acessíveis, recorrendo-se ao rio para o transporte. As zonas de produção e de exploração mais importantes eram o Sinai, o Deserto Oriental, Assuão. O Sinai também tinha o cobre e o Deserto Oriental oferecerá mais tarde o ferro.

 

Agricultura

Os cereais, trigo e cevada, constituíram uma das principais produções agrícolas. Havia, no entanto, outras produções importantes como os produtos hortícolas, os legumes, as árvores de fruto, a vinha.

Criava-se gado de porte, como o bovino, mas também animais de menor porte como a cabra, a ovelha. Também o ganso e o pato.

 

Indústria

O papiro era uma matéria-prima com múltiplas utilizações, nomeadamente na construção de pequenos barcos fluviais. Também era usado no fabrico de esteiras, cordas, sandálias e, obviamente, como material de suporte da escrita. Durante o período romano e até antes o papiro chega a ser exportado.

A confecção de vestuário era outra indústria importante. Era uma actividade mais reservada à mulher. A cultura do linho deve ter desempenhado um papel importante.

Os couros eram usados para produzir objectos de uso comum como toda a espécie de correias, cintos e sandálias.

A marcenaria padecia do facto de o Egipto não ser fértil em madeiras de boa qualidade. Existia o sicómoro, a palmeira, a acácia, mas estas forneciam madeiras fibrosas. A boa madeira tinha que ser importada.    

A matéria-prima para a produção de cerâmica era abundante. A cerâmica era uma actividade antiga. A cerâmica envernizada, a chamada faiança egípcia, era conhecida desde há muito. Também a produção de vidro era antiga embora não se saiba ao certo a sua origem. No Império Médio, atingiu um desenvolvimento considerável.

Metais. O cobre era extraído no Sinai. O bronze impõe-me definitivamente a partir do Império Médio. O ferro começa a impor-se a partir do Império Novo, embora tenha levado algum tempo a substituir o bronze. A prata era mais rara do que o ouro e chega a ser mais valorizada do que aquele. O ouro era extraído de aluvião mas também explorado nas zonas montanhosas e desérticas.     

Pedreiras. No Egipto e regiões adjacentes, eram explorados o calcário branco, o alabastro, o grés (Djebel Silsileh). No Assuão, explorava-se o granito vermelho. O granito negro era explorado no interior do deserto, no Uadi Hammamat, tornando difícil o transporte de grandes peças.

 

O Nilo era um elemento estruturante do território e da economia do Egipto. A navegação ao longo do rio era fundamental, com recurso a embarcações construídas em madeira como a acácia e até mesmo em papiro. Havia embarcações de dimensões diferentes, desde as que eram destinadas ao transporte de duas pessoas, sem vela, até àquelas, maiores, que eram usadas para transporte de cargas maiores.

 

Comércio. O comércio externo era essencialmente monopólio do Estado. Uma das áreas privilegiadas com a qual o Egipto mantinha contactos comerciais desde tempos remotos era a Núbia. A Núbia vai sendo progressivamente egipcianizada. O Egipto mantinha também relações comerciais com a região siro-palestinense, assim como com as ilhas mediterrânicas e em particular com o Chipre. As fontes falam também no País do Punt e da expedição que Hatshepsut teria organizado à região.

 

23-01-07

 

A Religião na Mesopotâmia

Entre os vários aspectos da religião mesopotâmica tratados em aula, destacamos esta apresentação sobre a concepção de destino porque este permite compreender as várias manifestações religiosas: a profecia, a adivinhação, a magia, o culto.

Veja a apresentação sobre o destino.

 

Atentemos agora numa das mais importantes expressões religiosas na Mesopotâmica - a magia. Veja a apresentação sobre a magia.