Meios digitais moldam novas gerações

Histórias de crianças de 6 anos que programam os vídeos depois de tentativas frustradas dos pais são hoje comuns. Pela primeira vez na história, as crianças são a autoridade. Estas dominam os novos meios tecnológicos, enquanto os adultos tentam não ser ultrapassados por eles.

Em países mais desenvolvido, como os Estados Unidos da América, o Japão, a Suécia e a Finlândia, a geração nascida a partir de 1979 cresceu num ambiente em que os media digitais são parte integrante. Estes media são para ela algo tão natural como a própria vida. Com eles brincam, aprendem, comunicam e trabalham.

Don Tapscott, no livro Growing up Digital, apelida-a de 'geração net'. Segundo Tapscott, "a nova geração tem um ponto forte que a outra jamais teve - está a nascer e crescer no meio da emergência de um meio de comunicação tão revolucionário como não havia memória desde a invenção da imprensa escrita".

O que distingue a geração Net da anterior não são atitudes mas competências e aptidões, o que origina uma alteração nas hierarquias do poder. "Pela primeira vez, há coisas que os pais gostariam de saber e de fazer, mas que precisam da ajuda dos filhos", afirma.

Para além da família, esta mudança estende-se também às escolas e aos locais de trabalho. No final dos anos 90, o Governo finlandês adoptou uma medida inovadora, seleccionando 5 mil crianças para dar formação no uso de computadores aos seus professores. As posições inverteram-se, os alunos tornaram-se professores e os professores alunos.

O domínio e conhecimento dos novos meios de comunicação mostra-se vital pois estes têm vindo a operar uma revolução nas sociedades contemporâneas. Mas há uma grande diferença entre assimilar novos conhecimentos numa fase de crescimento e fazer um esforço de actualização em adulto. Enquanto as crianças assimilam, os adultos acomodam-se ao novos media, o que exige um esforço redobrado.

"A originalidade que diferencia este grupo etário dos anteriores reside, a meu ver, numa colagem do conceito "geração" a um movimento tecno-cultural com consequências ainda imprevisíveis", afirma Carlos Correia, professor de Media Interactivos na Universidade Nova de Lisboa.

A convivência com os media digitais confere diferentes características culturais a esta geração. Em vez de espectadores passivos, as crianças aprendem desde cedo a interagir com o computador. Ganham autonomia, iniciativa e espírito criativo.

Com o computador estas crianças jogam, descobrem e criam comunidades virtuais - grupos de criança de todo o mundo ligadas entre si não por uma relação de proximidade geográfica, mas por uma afinidade de interesses.

Para Don Tapscot, da experiência destas comunidades, as crianças tornam-se mais tolerantes e abertas à diversidade. "Quando alguém se junta a um chat , ele não é julgado pela sua aparência ou pela cor de pele, mas sim pela sua personalidade. A Internet possibilita um local alternativo, um local livre de preconceitos", afirma Deanna Perry, de 15 anos, uma dos adolescentes inquiridos no livro Growing up Digital.