Bits de Mudança

"Oi, donde teclas?" É assim que 'Catbor7' inicia mais uma sessão de chat na Cidade da Malta. 'Catbor7', tem apenas oito anos, mas a Internet faz farte da sua vida. Foi pela mão do pai que há cerca de dois anos começou a navegar. As primeiras vezes que contactou com os browsers da internet ainda mal sabia o 'B-a Ba'. Hoje os chats dos sites infantis são locais de encontro com os amigos para conversas animadas.

'Catbor7' pertence a um grupo de crianças para quem o computador não é uma 'aparelho assustador' mas um brinquedo simples com o qual se habituaram a conviver. E é ao brincar que estas crianças começam, sem dar por isso, a desenvolver capacidades importantes na relação com as novas tecnologias. Fazem parte da chamada 'geração Net' - uma geração que nasceu e cresceu rodeada de media digitais.

"O termo geração Net é uma tentativa de demarcar o surgimento na vida activa de pessoas que começaram a brincar desde crianças com brinquedos interactivos, essencialmente jogos, e que mais facilmente acedem a competências nesta área", afirma Carlos Correia, professor de Media Interactivos na Universidade Nova de Lisboa.

Em Portugal, o número de crianças a usar os novos media está ainda longe das estatísticas dos países mais desenvolvidos. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, em Março de 1999 apenas cerca de 30 por cento da população portuguesa tinha computador em casa e só 12 por cento utilizava a internet. Quanto ao número de computadores por 100 habitantes, em 1997 situava-se nos sete, um valor claramente abaixo da média europeia de 18 computadores.

As medidas tomadas pelo governo, nomeadamente a dedução da colecta do IRS em 20 por cento na compra de computadores de uso pessoal, e a redução das tarifas de acesso à Internet, têm contribuído para o aumento destes valores. Contudo, as estatísticas situam-se ainda muito abaixo de desejado.

Mário Nobre, responsável pelo Departamento Educação e Formação da FutureKids, uma empresa americana de formação de crianças e adolescentes na área da informática, afirma que a percentagem média de computadores em cada sociedade não interfere directamente na capacidade de aprendizagem das crianças.

"Apesar da Internet ter muito maior penetração nos EUA, (com níveis de 60 a 70 por cento), as crianças portugueses têm até um nível de aquisição de conhecimentos um bocadinho superior às crianças americanas", afirma.

O risco da info-exclusão

A Internet oferece um conjunto vasto de potencialidades na área do trabalho, da comunicação e da recriação, que a torna um instrumento fundamental para a Sociedade do Conhecimento. A falta de condições de acesso à rede digital leva a um novo fenómeno de exclusão social - a info-exclusão - que se traduz na criação de um fosso entre os que podem beneficiar dela e os que não podem.

A actual realidade portuguesa tem levado o poder político ao desenvolvimento de iniciativas para que as novas gerações possam ter acesso aos media digitais. Neste âmbito, têm sido criados por parte do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Ministério da Educação, programas com vista à instalação de equipamentos de acesso às novas tecnologias em espaços públicos, como bibliotecas e escolas, que têm registado resultados positivos.

"Hoje qualquer criança durante a escolaridade obrigatória está potencialmente ligada à Internet pois existe na sua escola o equipamento necessário. Se não estivesse lá a Internet poderia haver crianças que, não tendo computador em casa, ficariam do lado errado do fosso", afirma João Correia de Freitas, responsável pelo programa Internet na Escola.

Actualmente, o número de crianças a ter acesso ao computador continua minoritário. A geração dominante é ainda a da 'televisão' e dos mass media tradicional. Contudo, mudanças são esperadas.

Segundo João Correia de Freitas, "é de esperar que em 2003, 2004 haja uma grande massificação no acesso à Internet. As crianças que nasceram há um ou dois anos quando entrarem no sistema educativo vão encontrar uma emersão neste tipo de meios muitíssimo grande".

Para Carlos Correia, "neste momento existe uma geração Net em Portugal, mas ela é muito reduzida. Nós aqui estamos sempre ao nível do Portugal dos pequeninos, somos sempre muito poucos. Devíamos multiplicar por mil a capacidade de formação".