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Duas vezes por ano, o Banco Alimentar Contra a Fome leva a cabo uma campanha de recolha de alimentos em supermercados. É durante estas alturas que a sua acção ganha mais visibilidade, mas esta Instituição de Solidariedade Social continua o seu trabalho ao longo do ano. Desde 1992, o Banco recolhe, armazena e distribui alimentos que, actualmente, chegam a mais de 100 mil pessoas carenciadas em todo o país. Este trabalho é feito quase exclusivamente por voluntários. Segundo Vasco Vieira da Fonseca, responsável pelo sector do voluntariado do Banco Alimentar de Lisboa, existem duas formas de dar o contributo à Instituição. «O tipo de voluntário que faz as campanhas não é o mesmo que trabalha assiduamente no Banco. Nas campanhas são sobretudo jovens que trabalham ou estudam durante a semana; no resto do ano, são pessoas reformadas ou com tempo disponível.» Bárbara Silva é uma das voluntárias do Banco Alimentar. Foi através da Paróquia da Damaia, na Amadora, que esta finalista de Ciências da Comunicação começou a participar nas campanhas de recolha de alimentos no Jumbo de Alfragide. «O que eu basicamente fiz foi ficar numa das portas a entregar os sacos às pessoas. Parece simples, mas é um trabalho bastante importante, porque não é só entregar o saco. Também é preciso conversar com as pessoas, explicar-lhes que alimentos podem trazer, qual é o objectivo da campanha», refere Bárbara. Esta explicação é fundamental, dado que há pessoas que não sabem com que tipo de alimentos podem contribuir. «As histórias às vezes são hilariantes, desde pessoas que levam os sacos e depois não os devolvem, a pessoas que trazem carne e peixe, quando só podem ser alimentos que não se estraguem a curto prazo». As maiores dificuldades no funcionamento do Banco não são a falta de voluntários. A prova disso é que para cada campanha inscrevem-se cerca de 300 novos elementos. «Nas 100 lojas onde estamos presentes, mobilizam-se cerca de 2500 pessoas. Aqui, para recolher os sacos e os alimentos que vêm das lojas, trabalham entre 500 a 600 durante aquele fim de semana. No domingo à noite, quando saímos daqui está tudo arrumado», afirma Vieira da Fonseca. O problema principal do Banco Alimentar é não ter capacidade para atender a tantos pedidos. Actualmente, tem acordos com 171 instituições de solidariedade social de âmbito mais restrito, a quem faz chegar os alimentos. Mas existem ainda mais 132 instituições, só na zona de Lisboa, que se encontram em lista de espera para trabalhar com o Banco. Em 1999, o Banco recolheu cerca de 4500 toneladas de alimentos, no valor superior a 1,3 milhões de contos, só em Lisboa. Parece muito, mas não é o suficiente. «Não é que as pessoas não dêem, mas são necessários muitos mais alimentos. Se mais tivéssemos, mais distribuíamos», diz o responsável pelo voluntariado. Apesar do seu esforço parecer muitas vezes inglório, o que é gratificante para estes voluntários é sentirem-se úteis quando não têm nada para fazer. «Para mim é bom participar nestas campanhas. É uma boa sensação ter ajudado alguém de quem não conhecemos a cara, mas que irá certamente viver um pouco melhor», conta Bárbara. Vasco Vieira da Fonseca, sublinha o entusiasmo dos voluntários que ali trabalham. «Eu dou sempre o exemplo de um senhor que tem 82 anos. Todos os dias, ele entra às nove e sai às cinco da tarde. E é uma pessoa que nem mora aqui ao lado, vem da outra banda, mora no Seixal.» Para muitas destas pessoas, o trabalho desenvolvido no Banco é uma experiência enriquecedora do ponto de vista pessoal. Criam-se novas amizades, adquirem-se outros valores e sente-se que se está a contribuir para uma causa justa. «Faço isto porque gosto e porque se contacta directamente com as pessoas. Sabe bem poder explicar-lhes o que estamos ali a fazer e algumas até mudam de opinião. Prefiro mil vezes fazer isto do que dar uma esmola a alguém no meio da rua, no metro, ou aonde for», confessa Bárbara Silva. E é muito fácil tornar-se voluntário. Basta chegar ao Banco, inscrever-se e ponto final. |