
Trabalhos
dos alunos
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Sumário
Jornalismo digital. Problemas
éticos e legais. LEITURAS.
Jornalismo digital
Na sua tese de mestrado
"Jornalismo Electrónico: Internet e reconfiguração de práticas nas
redacções", apresentada à Universidade Nova de Lisboa em 1999, Hélder Bastos
diferencia as expressões "jornalismo online" de "jornalismo digital"
ou "ciberjornalismo".
Jornalismo online é, segundo
Bastos, a utilização da rede "como instrumento privilegiado de contacto com as
fontes e de pesquisa de conteúdos (...) Neste particular, podemos situar a Internet como
uma componente essencial do jornalismo assistido por computador, o qual engloba (...) a
pesquisa online".
O ciberjornalismo ou jornalismo
digital (estas expressões são equivalentes) será a produção de textos jornalísticos
"na rede e para a rede".
Das primeiras experiências de
jornalismo digital dos anos 80 com sistemas de videotexto até aos jornais totalmente
digitais dos dias de hoje há uma mudança radical que convém perceber melhor e que
transformou a Internet num poderoso meio de comunicação social.
Entre as vantagens principais do
novo meio estão
Instantaneidade
Interactividade
Actractividade
Distribuição fácil
Produção mais barata
Tendo em atenção estas
vantagens, muitos média tradicionais começaram a deslocar-se para a Internet. Escrevia
Fred Mann [Do Journalism
Ethics & Values Apply to New Media?] em 1997: "Quase todos os jornais de que
nos lembramos estão online. Porquê? Porque têm medo de não estar. Porque lhes foi dito
que era necessário estarem. Porque querem proteger a sua posição de fornecedores locais
de informação. E porque esperam que exista lá dinheiro".
Esta caminhada para a Net teve,
segundo John Pavlik [The Future of
Online Journalism: A Guide to Who's Doing What], três fases distintas: na primeira,
os jornais limitaram-se a transferir conteúdos dos seus produtos originais para a rede;
na segunda, houve a criação de algum material original e o enriquecimento desse material
com hiperligações; na terceira, que cada vez está mais pujante, os jornais começaram a
criar material original para a Web e a colocá-lo exclusivamente "on-line".
Não é por acaso que mesmo em
Portugal surgiram os jornais totalmente digitais - Diário
Digital - ou a aposta nos serviços de notícias actualizadas quase 24 horas por dia -
Última Hora.
Problemas éticos...
O jornalismo digital coloca
novos problemas éticos e legais que não devemos considerar como menores e sobre os quais
é necessário reflectir.
Entre os principais problemas
éticos está a separação cada vez mais ténue (na Internet) entre os textos
jornalísticos e os anúncios, ou entre a possiblidade de efectuar hipeligações entre os
textos que os jornalistas escrevem e produtos que estão à venda "on-line",
organizações de duvidoso currículo ou textos de opinião sobre o mesmo tema. J.D.
Lasica diz exactamente isso mesmo [Preserving
Old Ethics in a New Medium], citando Fred Mann: "Existe uma pressão
considerável sobre os editores online para fazerem crescer o negócio e começarem a
fazer dinheiro, por isso a tentação de pisar o risco é grande".
As alianças entre os média e
outras empresas distribuidoras de informação [gjhgjg] colocam também problemas éticos
aos próprios jornalistas e podem "comprometer os repórteres em termos de
autocensura", disse em 1997 Wilson Dizard, no seu livro Old Media, Nem
Media: Mass Communication in the Information Age.
A necessidade de actualização
constante das notícias poderá pôr em causa o próprio rigor jornalístico, enquanto a
possibilidade de controlo total sobre a audiência de um determinado artigo (quantas vezes
foi lido? por quem? durante quanto tempo?) pode levar os jornalistas a escorregar para um
maior sensacionalismo na abordagem, de forma a agradar aos seus editores, responsáveis de
publicidade e anunciantes. [RUTENBERG, Jim, Difference
in News Cycles is Testing the News Media, The New York Times, 20 Mar 2000]
A facilidade de publicação de
textos "on-line" abre ainda a possibilidade de empresas que nada têm a ver com
jornalismo se iniciarem nessa tarefa. A confusão entre o que são
"press-releases" e o que é informação trabalhada por um jornalista torna-se
então muito mais fácil de acontecer.
... e legais
A questão dos direitos de autor dos
jornalistas no ciberespaço tem enchido páginas e páginas de jornais nos últimos anos.
A passagem dos jornalistas a meros "produtores de conteúdos" capazes de
escrever para os mais diferentes suportes - discussão que esteve presente na recente
aquisição do "Los Angeles Times" pelo "Chicago Tribune" - vai
manter-se certamente por mais alguns meses. [OODMAN, Ellen G, The
Morphing of Journalists in the New Media World, The Boston Globe, 19 Mar 2000]
Por outro lado, a utilização de
informações recolhidas em fóruns "on-line" - emitidas por fontes que
desconhecem estar a ser monitorizadas por um jornalista - colocará também certamente
problemas judiciais no futuro a empresas jornalísticas e a jornalistas, que poderão ser
acusados de apropriação indevida.
Finalmente, não serão de desprezar os casos
em que os próprios jornais ou os jornalistas, pirateados por terceiros, colocarão
processos judiciais aos infractores.
LEITURAS
- GRAHAM, Gordon, "The Internet as
anarchy" in The Internet:// A Philosophical Inquiry,
Routledge, 1999, p. 84-102
- ROSEN, Jay, "What are Journalists
For?" in What are Journalists For?, Yale University Press,
1999, p.281-300.
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